Jânio de Freitas – Folha de S.Paulo
O governo sumiu. Foi sua melhor providência em dois anos de invasão da Presidência e adjacências. O Supremo Tribunal Federal ocupou o vazio: em uma semana, foi mais criticado do que em todo o seu tempo pregresso, cujo silêncio impositivo, por temor ou interesse, só foi perfurado já no século 21. Mas do Supremo saiu, apesar de logo atacada, uma decisão há muito necessária.
Desde o governo Fernando Henrique, não haveria melhor ocasião para exigir-se que privatizações sejam submetidas ao Congresso, como vem determinar medida do Supremo, pelo ministro Ricardo Lewandowski. A deficiência moral do Planalto de Temer não decorria só da presença, lá, do hoje encarcerado Geddel Vieira Lima. Logo, a pretendida venda da gigante Eletrobras ao gosto do governo seria, sem dúvida, a reprodução das vendas de gigantes como a Vale do Rio Doce e as telefônicas. Nas quais o próprio Fernando Henrique deixou gravados, tal como Temer com Joesley Batista, indícios óbvios das cartas marcadas nas transações.
Em entrevista recente à Folha, Armínio Fraga repetiu um pretenso argumento de uso comum nos neoliberais: “Governo não deve ter empresa”. É verdade. Não deve e não tem. Nenhuma estatal é de governo. Todas são do chamado Patrimônio da União, os bens conjuntos do país. É descabido, quando não é criminoso, que um grupelho decida fazer negócio com bens da nação, por critérios de sua autoria, senão de compradores. Sem ao menos submetê-los ao Congresso para o exame das razões e condições, sua divulgação ao país e a autorização, ou não, dos ditos representantes da sociedade.
Continua…