Presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia responsável pela aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a educadora Maria Inês Fini foi taxativa ao comentar a natureza do exame. “Não é o Governo que manda na prova”, disse a doutora em Ciência, à frente do Inep desde maio de 2016.
Fundadora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Maria Inês concedeu entrevista ao grupo do jornal espanhol El País, que atua no Brasil, na última segunda-feira (5), cinco dias antes da transmissão de vídeo em que o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), criticou uma questão do Enem relativa à espécie de dialeto falado por gays e travestis, o “pajubá” (veja abaixo a reprodução da questão, usada para abordar conhecimento técnico especificamente relacionado ao patrimônio linguístico brasileiro).
Sexta, 9, durante o registro de vídeo no Facebook, Bolsonaro disse que esse tipo de pergunta será excluído do Enem, e que sua equipe vai vistoriar as provas antes da aplicação.do exame, que dá a estudantes acesso a mais de 500 universidades públicas e privadas.
“Este tema, da linguagem particular daquelas pessoas… O que temos a ver com isso, meu Deus do céu? Quando a gente vai ver a tradução daquelas palavras… um absurdo, um absurdo! Vai obrigar a molecada a se interessar por isso, agora?”, reclamou Bolsonaro, elencando as “ideologias de gênero” entre as questões que ele diz considerar desimportantes (veja mais em vídeo).
Bolsonaro e seus seguidores têm espalhado a versão de que universidades e escolas brasileiras promovem “doutrinação de esquerda” e fomentam a discussão sobre “ideologia de gênero”. As críticas são lançadas principalmente por meio de redes sociais (veja exemplo abaixo, no Twitter), mas também em entrevistas de TV e rádio.
A pesquisadora disse ao El País que a elaboração das questões é de estrita responsabilidade da área técnica, de maneira que sequer o próprio Ministério da Educação interfere na elaboração das provas. “O Inep tem uma diretoria específica de técnicos consagrados que, com a ajuda de uma série de educadores e professores universitários de todas as regiões do país, elaboram a prova”, acrescentou a pesquisadora.
Cotada para ser ministra da Educação no governo Bolsonaro, ela explicou ainda que o Inep, devido à natureza de autarquia governamental, está “alinhadíssimo com o Ministério da Educação”, mas enfatizou que a prova é de responsabilidade total do instituto. Por isso, completou Maria Inês, o Inep tem autonomia plena para elaborar as questões, sem qualquer intervenção do governo.
Ela lamentou as críticas a determinadas questões apresentadas no Enem deste ano, que começou no último fim de semana e será encerrado neste domingo (11), com provas de Matemática e Ciências da Natureza. “Em momento algum houve qualquer perspectiva de doutrinação, de valorização de uma posição em detrimento da outra. Eu só lamento que algumas leituras tenham sido equivocadas, mas cada pessoa, cada leitor do mundo faz uma interpretação do texto da maneira como quer, não é? Com a sua cultura, com seus valores e com as suas ideologias”, acrescentou Maria Inês, para quem a prova é uma oportunidade para jovens interajam com a tipologia de diversos autores, de forma plural.
Confira a questão que causou polêmica ao abordar a temática LGBT+: