Celulares apreendidos em presídios serão doados para o aprendizado de tecnologia de pessoas em situação de vulnerabilidade social. Antes, os aparelhos encontrados com visitantes em unidades prisionais eram descartados ou destruídos. Em 2018, 2.410 aparelhos foram recolhidos em Pernambuco. No primeiro trimestre deste ano, cerca de 600.
A Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SJDH), firmou parceria com o Centro de Recondicionamento de Computadores do Recife (CRC), onde mais de 15 mil pessoas já realizaram realizaram diversos cursos – inclusive robótica – gratuitamente. A partir deste mês, todos os aparelhos eletrônicos apreendidos serão destinados aos estudantes.
O CRC oferece oficinas de 30 horas, cursos de aperfeiçoamento profissional de 90 horas e até qualificação profissional de 213 horas, onde aprendem o recondicionamento de computadores, sempre com ênfase em suportes, para repará-los. “Aprendem eletrônica, fabricação e reparo de componentes, montagem de artefatos, na maioria das vezes, voltados a pessoas com deficiência. Há um foco muito forte em redes e conectividades. Começamos há dez anos com o intuito de diminuir a exclusão digital”, explicou o presidente do CRC, Sávio França.
Na escola de Yngrid Silva, 16, a Padre Dehon, na Iputinga, não há aulas de robótica disponíveis. Mas, quando soube do CRC pela televisão, a estudante procurou o local e fez um curso de dois meses. “Esperei um mês porque faltava aluno para fechar uma turma. Quem tiver interesse mesmo consegue realizar o curso. Eu consegui construir um boné sensorial, para pessoas cegas. Quando há um obstáculo, o chapéu vibra e emite alertas sonoros”, contou.
Yngrid, que fez um curso de dois meses, não ficou satisfeita. Quer mais. Tornou-se voluntária do CRC Recife para conseguir aprimorar os conhecimentos. Já dá dicas para quem sabe menos. “Não rejeito nenhum trabalho, por causa da situação atual, mas, agora, quero mesmo trabalhar com informática ou com robótica”, revelou.
O material para que os alunos consigam realizar as tarefas são aparelhos eletrônicos sem funcionar, doados voluntariamente nos ecopontos do CRC. Os mais conhecidos são os da Paróquia de Casa de Forte, na Zona Norte, e o do Porto Digital, na Softech, no bairro do Recife. Agora, contudo, recebem o reforço da SJDH.
“Não podemos ficar com o lixo eletrônico que vem das unidades prisionais, nem comprometer o meio ambiente jogando o resíduo fora. Eu gostaria de não apreender nenhum celular em unidades prisionais, mas como isso ainda acontece, precisamos dar um destino a eles para que não retornem à prisão. O envio dos materiais eletrônicos apreendidos ao CRC visa promover aprendizado aos jovens e a preservação do meio ambiente”, afirmou o secretário de Justiça e Direitos Humanos, Pedro Eurico. (Folha de Pernambuco)