Decidido desde a campanha eleitoral a não aderir ao “toma lá, dá cá” que predomina no Congresso Nacional, o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) tem adotado a tática de nomear seus futuros ministros a partir das indicações técnicas, das bancadas temáticas, ou políticas, sem o aval de lideranças partidárias, além de ter investido na escolha de expressivo número de militares. As nomeações para os Ministérios da Agricultura, com Tereza Cristina (DEM), e Educação, com Ricardo Vélez Rodríguez, ilustram bem a postura do futuro chefe do Executivo. Para analistas, o gesto favorável às bases ideológicas – como o segmento das Forças Armadas e a bancada evangélica – em detrimento dos partidos – configura um jeito diferente de “presidencialismo de coalizão” e, na iminência de iniciar o governo, enche de expectativas os atores políticos em torno do Planalto.
O presidencialismo de coalizão está, essencialmente, baseado numa política de barganhas, de trocas entre o Executivo e o Legislativo. Os pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Frederico Bertholini e Carlos Pereira apontam que o modelo brasileiro em vigor desde a redemocratização é formado por um presidente constitucionalmente forte, multipartidarismo, eleições no Legislativo com voto em lista aberta, representação proporcional, fragmentação partidária, federalismo e polarização ideológica.
Os pesquisadores perceberam que nos governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi predominante uma coalizão de centro-direita, enquanto nos governos do PT, tanto de Lula quanto de Dilma Rousseff, o que predominou foi um ajuntamento heterogêneo de partidos. Seguindo esse raciocínio, quanto maior a necessidade de contemplar aliados, mais custosa será a governabilidade. A ex-presidente Dilma, no auge de sua impopularidade, no segundo mandato, possuía 39 ministérios. A sua coligação contava com PT, MDB, PSD, PP, PR, PROS, PDT, PCdoB, PRB – alguns identificados com a bancada evangélica, como o PRB e o PR, que destoavam da pauta progressista e identitária empunhada pelos petistas.
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