O grande problema de um vilão silencioso é que quando ele resolve atacar, você nem sempre consegue se preparar a tempo de se proteger. E é esse o caso do glaucoma, a principal causa de cegueira irreversível no mundo. Segundo a Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG), a doença, causada pela elevação da pressão intraocular, sobretudo, atinge cerca de 2% dos brasileiros acima dos 40 anos, ou seja, em torno de um milhão de pessoas.
O oftalmologista João Luis Vilaça, do Hospital da Visão de Pernambuco, explica que a ocorrência do glaucoma costuma estar associada ao fator hereditário. “Na maioria dos casos, a causa é hereditária. Costuma vir do pai, da mãe ou de algum parente próximo”, citou. “Além disso, há alguns fatores de risco que podem favorecer o surgimento do problema, como é o caso da idade: os pacientes devem ligar o alerta a partir dos 40 anos, que é a faixa etária mais comum. Pacientes míopes, diabéticos, negros e os que fazem uso de corticoides de maneira crônica devem cuidar de perto da sua visão”, complementou Vilaça.
Apesar de o glaucoma crônico ser mais comum na faixa dos 40 anos, o médico do HVisão esclarece que ainda existem os glaucomas congênitos, que acometem os recém-nascidos; e os glaucomas secundários, decorrentes de um trauma ou de uma infecção ocular grave.
O aumento de pressão ocular, que provoca o glaucoma, acaba lesionando o nervo óptico. E, segundo João Vilaça, toda lesão nesta região é irreversível. Cerca de 95% das ocorrências de glaucoma não são percebidas porque não apresentam sintomas, e isso reforça a importância de se realizar um acompanhamento oftalmológico frequente. “O glaucoma dificilmente vai apresentar algum sintoma, e isso é extremamente perigoso porque o paciente não sente nada, ele só nota alguma diferença quando começa a perder a visão periférica, ou seja, já em um quadro avançado e de caráter irreversível. Existem os casos raros, que são chamados de agudos e correspondem a menos de 5% das ocorrências. Nessa situação, a pressão é tão alta que o paciente sente dor”, exemplifica Vilaça.
Quando o problema está em estágio avançado, o paciente perde a visão lateral, também chamada de visão periférica. “O paciente com glaucoma passa a ter a ‘visão tubular’, porque é como se ele estivesse enxergando através de um tudo. Ele começa a sentir dificuldade de dirigir, tem dificuldade de caminhar, e fica inseguro, com medo de bater nas coisas”, relata o médico.
João Vilaça destaca, mais uma vez, que só uma rotina de consultas oftalmológicas é capaz de impedir o avanço da doença, já que somente o exame de medir a pressão ocular consegue diagnosticar o problema antes que já tenha comprometido grande parte da visão.
“Quando não é possível impedir o avanço, partimos para o tratamento. Em geral, é um tratamento clínico, a base de colírios, cuja quantidade diária vai depender da gravidade. Já nos casos em que os colírios não dão conta de evitar as alterações provocadas pelo glaucoma, inicia-se um tratamento com laser, chamado de fotocoagualação. E nos casos mais avançados, é feita a realização da trabeculectomia, uma cirurgia mais invasiva com o objetivo de controlar a pressão ocular”, finalizou.