Correio Braziliense
Com um índice de abstenção em 26%, o Exame Nacional de Ensino Médio entra hoje no segundo dia. Serão aplicadas provas de Ciências da Natureza e Matemática. No primeiro dia do Enem, cerca de 2,3 milhões de candidatos compareceram às provas, em mais de 1,7 mil municípios.
De acordo com o ministro da Educação Milton Ribeiro, o percentual de abstenção foi baixo. Para especialistas, no entanto, com o menor Enem dos últimos tempos — cerca de 3,1 milhões de estudantes se inscreveram, o menor número de candidatos desde 2005 — a ausência de mais de 800 mil estudantes tem um impacto significativo. “Não dá para considerar uma evasão de 26% como algo muito bom, pelo contrário. Ele foi menor do que os outros anos, mas quando você compara a base total de alunos, nós tivemos muito mais alunos fazendo Enem e buscando perspectiva de estudo em anos anteriores”, comenta o professor Francisco Borges, mestre em Políticas Públicas para Educação e consultor da Fundação FAT.
Nas últimas semanas, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) se viu diante de uma crise ocasionada pela debandada de servidores e denúncias de censura e assédio. A primeira fase de testes, realizada no último fim de semana, mostrou que o temido desequilíbrio do certame — com as denúncias de vetos a questões e censura de alguns assuntos, havia a preocupação de um direcionamento nos temas das provas — não se concretizou.
Para Borges, a pouca interferência do governo nos questionamentos da prova comprova que a instabilidade no Inep decorre de divergências ideológicos. “A crise no Inep é uma crise política, ela não é técnica. O efeito do Enem foi ínfimo, mas a gente tem um presidente que é ‘bravateiro’ e acaba trazendo insegurança para as necessidades do país. Nós estamos falando hoje do Enem, mas nós podíamos estar falando do Bolsa Família, por exemplo”, disse.
Borges teme que a constante inconsistência da prova, além de trazer desesperança aos jovens, os afaste do mercado de trabalho. “A gente tem que perceber qual é a importância desse processo na vida do país. Três milhões de brasileiros que estão participando deste ano, quando sete e oito poderiam estar fazendo o Enem, mostra que nós estamos com quase 5 milhões de jovens desesperançosos para continuar estudando, e se não vão continuar estudando como é que vai ser a perspectiva de trabalho para eles na frente?”, afirmou o especialista.
Estratégia no exame
No segundo dia de provas do Enem, os candidatos responderão a 45 questões de Ciências da Natureza e 45 questões de Matemática.
O professor Fredão, coordenador do colégio Pódion, indicou algumas dicas. Primeiro, ele recomenda começar a leitura pelo comando, olhar as alternativas e só então ler o texto base. “Isso vai ajudar o candidato a economizar tempo na prova, pois ele vai ler o texto já buscando o que será pedido no comando”, diz.
Segundo passo: sublinhar as principais informações do texto, especialmente as numéricas e de unidades de medida, para não esquecer de considerar essas informações indispensáveis do texto durante os cálculos.
Em seguida, estabelecer uma estratégia para cada etapa da prova: começo, meio e fim. “Por qual componente vou começar?”, “O que farei quando o cansaço bater?”, “No final da prova, qual componente devo priorizar?”. “Todas essas reflexões devem ser feitas pelo candidato antes da prova e devem se basear em tudo o que ele aprendeu fazendo simulados no modelo Enem e provas antigas”, complementa.
Ele chama a atenção, ainda, para a necessidade do candidato se lembrar que o modelo de correção da prova envolve a Teoria de Resposta ao Item (TRI). “Não basta acertar muitos itens. Espera-se que o candidato acerte os itens mais fáceis e intermediários, antes de acertar os difíceis. Por isso, se o candidato perceber que uma questão parece difícil, com muitos cálculos, interpretação complicada ou de um tópico normalmente complicado, como combinatória e logaritmo, ele deve pular essas questões em um primeiro momento, voltando nelas ao final da prova”, conclui.