Metrópoles – Apontado como espião a serviço do regime de Vladimir Putin, Sergey Vladimirovich Cherkasov (foto em destaque) está detido na Penitenciária Federal de Brasília desde o fim de janeiro deste ano. A informação foi confirmada pela coluna com fontes do governo federal.
O russo foi preso em São Paulo, no mês de abril do ano passado, pela Polícia Federal. Ele usava identidade brasileira falsa para tentar se infiltrar no Tribunal Penal Internacional, em Haia.
Segundo o serviço secreto holandês, Sergey Cherkasov, 36, passou 12 anos construindo a identidade falsa — de Viktor Muller Ferreira, 33, nascido em Niterói, no Rio de Janeiro.
Ele teria chegado ao Brasil em 2010. Depois, já usando a identidade falsa, morou nos Estados Unidos e na Holanda, onde tinha conseguido uma vaga de estágio no Tribunal Penal Internacional (TPI), também conhecido como Corte Penal de Haia.
Já sob monitoramento, ele veio recentemente ao Brasil e, em abril, embarcou em um voo para a Holanda. Ao chegar lá, teve a entrada negada pelo governo holandês, que apontou a falsidade documental, o mandou de volta ao Brasil e avisou as autoridades brasileiras. O russo acabou preso no desembarque em São Paulo e, agora, está em Brasília.
Além do alerta, os holandeses compartilharam toda a história com os órgãos de inteligência e investigação do Brasil. O governo passou a saber, desde então, que, por trás dos documentos falsos, havia um homem apontado por um país estrangeiro como um espião russo que tentava se infiltrar no tribunal penal — um caso, evidentemente, de repercussão internacional.
A estratégia do Brasil, porém, foi manter tudo sob o mais absoluto segredo. Era para ficar assim. Até que, tempos depois da prisão, e diante do silêncio brasileiro, o próprio serviço secreto da Holanda fez um comunicado público no qual anunciou ter desmascarado o agente russo.
A ficha do espião
No comunicado feito em junho do ano passado, o serviço secreto holandês afirmou que Sergey Cherkasov trabalha para o GRU, a maior agência de inteligência da Rússia com operações no exterior. O GRU é ligado às Forças Armadas russas.
“Esta foi uma operação do GRU de longo prazo e de vários anos, que custou muito tempo, energia e dinheiro”, declarou Erik Akerboom, do Serviço Geral de Inteligência e Segurança Holandês, o AIVD.
Os holandeses disseram que resolveram dar publicidade ao caso para evidenciar as estratégias da inteligência russa que põem em risco instituições internacionais, como o Tribunal Penal Internacional.
Em nota, a agência afirmou que, se o oficial de inteligência tivesse conseguido entrar no TPI, poderia coletar informações, recrutar fontes e até ter acesso aos sistemas digitais da Corte.
O Tribunal Penal Internacional investiga possíveis crimes de guerra cometidos pela Rússia — e por Putin — na Ucrânia.