Epílogo…

                                                                  

Brasília - DF, 11/05/2016. Presidenta Dilma Rousseff durante declaração à imprensa. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Brasília – DF, 11/05/2016. Presidenta Dilma Rousseff durante declaração à imprensa. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Eram 10h da manhã. Dia 12 de abril de 2016. Em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília, mulheres. “Pisa ligeiro, pisa ligeiro. Quem não pode com as mulheres não assanha o formigueiro”, cantavam. Lá dentro, em uma sala reservada para a coletiva de imprensa de Dilma, mais mulheres, rostos inconformados, pessoas simples, flores. Poucos políticos, claro. Ela havia sido afastada no mesmo dia, justamente por não conseguir apoios dentro do Congresso. Mas, se faltavam “notáveis” naquele ambiente, sobrava gente do lado de fora. Eu assistia atentamente o seu discurso, quando resolvi olhar para trás. Pela enorme janela de vidro que dava para a parte externa do prédio, vi milhares de pessoas, que esperavam ansiosamente para se despedir daquela mulher. Ela desce. Não pela rampa, mas pela lateral. E é calorosamente recebida pelos manifestantes, que carregavam balões em formato de coração e bandeiras do Brasil.

Brasília - O presidente interino Michel Temer faz discurso durante cerimônia de posse aos ministros de seu governo, no Palácio do Planalto (Valter Campanato/Agência Brasill)

Brasília – O presidente interino Michel Temer faz discurso durante cerimônia de posse aos ministros de seu governo, no Palácio do Planalto (Valter Campanato/Agência Brasill)

Horas depois, lá estava eu, na mesma sala. Agora, era a vez de Michel Temer dizer algumas palavras. Mas o lugar não era mais o mesmo. Haviam muito mais paletós e gravatas, raríssimas mulheres. Rostos conhecidos da política tradicional, que não hesitavam em externar o sabor da vitória. Risos, selfies e comemorações. Políticos se espremiam e disputavam espaço para ficar o mais perto possível daquele homem. Tanto que sofreram forte protesto da imprensa, que não conseguia captar a imagem do púlpito, onde o presidente interino daria o ar de sua graça. Nesta hora, mais risos e olhares de desprezo. Durante o discurso de “salvação nacional”, espaço garantido para a palavra “ordem” e orações. “O que nós queremos fazer agora, com o Brasil, é um ato religioso, é um ato de religação de toda a sociedade brasileira com os valores fundamentais do nosso País”. Por instinto, olho novamente para trás. Através daquela mesma janela de vidro, vi mulheres e homens sendo espancados pela polícia, em frente ao Palácio. No chão, ficaram as flores pisoteadas. No ar, a certeza da História. (Daniel Leite – [email protected]/Folha de Pernambuco)