Por Jornal O Poder– Neto de Miguel Arraes. Filho da ex-ministra Ana Arraes. Irmão único de Eduardo Campos. Advogado de sucesso. Empreendedor cultural com eventos de grande repercussão. Autor de dezenas de livros, integra a Academia Pernambucana de Letras. Exerceu por quatro anos, fazendo um excelente trabalho e sem politizar a instituição, a presidência da emblemática Fundação Joaquim Nabuco – Fundaj. Nessa entrevista exclusiva e instigante ele relembra suas realizações, fala sobre os projetos para o futuro e traça um perfil dos grandes desafios do mundo atual.
O PODER – Como você viu a saída da Fundaj? ANTONIO CAMPOS – Vejo de forma natural, como um fechamento de um ciclo de uma gestão. Fizemos uma administração marcada pelo diálogo e com muitas entregas à sociedade.
O PODER- Quais os principais legados da sua gestão? AC – Incentivamos a educação, a cultura, a economia e a preservação da memória. Lançamos e executamos prêmios para a Região Nordeste, área de atuação da Fundação, como o Delmiro Gouveia de Economia Criativa e o Concurso Nordestino do Frevo, sendo este último por duas edições. Estamos deixando o acervo sonoro, um dos mais ricos do País, completamente digitalizado. Iniciamos a digitalização das obras raras da Biblioteca Blanche Knopf, referência na área das Ciências Sociais. Ainda sobre digitalização, em nossa gestão a Fundaj passou a contar com SEI, dando transparência aos processos. Incluímos, também, a Fundaj no cenário internacional, com termos de coperação assinados com as Universidades de Coimbra, em Portugal, e Salamanca, na Espanha. Deixamos uma sala de cinema a mais, a do Porto Digital, no Bairro do Recife. Pedimos ao MEC/Ministério da Economia um concurso público, que não ocorre desde 2007, entre outros feitos.
O PODER- Você voltou a advogar? AC – Voltei a advogar. Sou advogado militante, tenho 35 anos de advocacia, pois comecei a estagiar aos 19. Vivemos um momento de grande ativismo jurídico. No Direito de Saúde, por exemplo, há um verdadeiro SUS jurídico sobre remédios e tratamentos especiais e muitas ações contra planos de saúde.
O PODER – E a literatura? AC – Além da advocacia, estou lançando em março dois livros e fazendo o lançamento do Instituto Baobá, de preservação dessa árvore e focado em sustentabilidade, com exposição de fotos de Marcus Prado em formato físico e NFT, na Academia Pernambucana de Letras, a qual pertenço. Os livros são Resistir na Era das Incertezas, pela Editora Gente e Jardim dos Baobás, que é um registro sobre essa árvore e sua importância cultural e ambiental, em Pernambuco. O livro Resistir terá lançamento em diversas capitais. Em março, lanço um novo blog pessoal, juntamente com o lançamento dos livros, com um novo formato em redes sociais.
O PODER- Como vê o Governo Lula 3? AC – Como brasileiro torço que dê certo. Há muitos desafios. O Brasil precisa de uma reconciliação.
O PODER- Como vê o governo Raquel? AC – Vejo com esperança de uma boa gestão, ante a sua qualificação técnica. Foi muito importante fechar um ciclo do PSB em Pernambuco. O governo de Paulo Câmara tinha alto índice de rejeição, estava fadigado.
O PODER- E Olinda? Pretende ser candidato? AC – Olinda precisa ter um projeto claro de desenvolvimento e de mais ações inclusivas dos olindenses carentes. A atual gestão faz uma maquiagem na cidade. Ao andar no centro comercial de Olinda é evidente e assustadora a quantidade de placas vende-se ou aluga-se. Olinda pode e deve ser a capital criativa do Nordeste. Pode fazer muito mais e não um quase ‘feijão com arroz’. Tenho dialogado com os olindenses e vou aprofundar o debate sobre um projeto para a cidade. No momento adequado, faremos as devidas avaliações.
O PODER – Como encara os desafios do contemporâneo? AC – O meu foco é o tempo presente, os homens presentes, inclusive tenho estudado arte contemporânea. Se perguntarem a minha idade, digo que minha idade é hoje.
O PODER- O contemporâneo é tema do seu livro “Resistir”.. AC – A guerra principal que travamos é a guerra de narrativas. É maior que a guerra na Ucrânia e os outros conflitos armados. Vivemos um tempo marcado pela pós-verdade, Fake News, que as narrativas são muitas vezes mais importantes que os fatos. É preciso fazer uma reflexão séria sobre isso. Quem dominar a inteligência artificial terá um grande diferencial competitivo no domínio do contemporâneo, como disse inclusive Putin, em entrevista.
O PODER – E o Brasil nesse contexto? AC – Além de uma potência agrícola, o Brasil pode e deve ser uma potência ambiental. O Livro Paraíso Restaurável de Jorge Caldeira trata desse tema, de como o Brasil pode e deve ser uma potência ambiental e vender isso bem ao mundo, sem abrir mão da sua soberania. A questão ambiental passou a ter um conteúdo econômico real, inclusive na valoração dos países, como também haverá uma corrida no mercado de crédito de carbono. O mundo está investindo dois trilhões de dólares em energia renováveis, por ano. É duas vezes o PIB do Brasil.
O PODER- Existe lugar para a felicidade, hoje? AC – Contardo Calligaris dizia que é melhor ter uma vida interessante do que feliz. Em seu recente livro Felicidade, Ana Beatriz Barbosa, diz que felicidade é uma palavra que deveria ser vista como verbo, como ação diária, esforço permanente de superação dos desafios. Viemos ao mundo para evoluir e o sentido da vida é ser melhor a cada dia e o propósito é compartilhar. As redes sociais têm gerado muita comparação e frustração. Existe, por exemplo, uma pandemia silenciosa de suicídios, pois morre a cada 40 segundos uma pessoa no mundo disso, sem falar em outra pandemia de depressão. Sou um realista esperançoso e acho a vida um grande espetáculo e sou movido por projetos.