A rotina dos trabalhos dos servidores do Cemitério de São José, da cidade de João Alfredo, foi interrompida na manhã de ontem (27), quando os coveiros Léo e Anacré abriram um túmulo para a limpeza e posterior enterro de um agricultor e se depararam com outro corpo em considerável estado de conservação, apesar de mais de 16 anos do sepultamento. O fato gerou grande repercussão nesta cidade e região, com variadas interpretações, fazendo alguns até pensarem em milagre ou coisa sobrenatural.
Segundo informações colhidas junto a familiares e numa das lápides afixadas no citado túmulo, trata-se do corpo do jovem Manoel Feliciano da Silva Neto, que faleceu no dia 23 de fevereiro de 2003, aos 23 anos de idade, na cidade do Rio de janeiro, sendo transladado para o sepultamento em sua terra natal João Alfredo.
Solicitado a opinar sobre a “novidade”, o funcionário público Tito Alves Filho que também é sócio de uma das funerárias locais, disse o seguinte: “Pessoal esse fato foi verdade. Ontem quando o coveiro abriu a cova para sepultar um parente da família, o funcionário viu o estado do corpo e, corretamente, chamou os familiares para constatarem a ocorrência. Quem tirou essa foto (abaixo) foi a família. Esse corpo veio do Rio de Janeiro, para ser sepultado em João Alfredo, terra natal do falecido que era sobrinho do professor Champollion. Acontece que um corpo para poder viajar de avião tem que ser embalsamado, e vem dento de caixão de zinco, revestido por outro ataúde de madeira. O citado corpo foi sepultado em uma cova com profundidade de mais ou menos 4 metros, entrou água dentro do caixão de zinco que, sendo galvanizado não enferruja, não teve como a água sair; a água e o produto do embalsamento conservaram o estado do corpo. Isso é uma coisa normal”, explicou.
Ao blog, o professor Manoel Mariano Neto – “Champollion”, tio do falecido, enviou uma mensagem a ele encaminhada, também explicando este fato: “Pessoal, boa noite. Viver, morrer e apodrecer. Biologicamente falando, esse é o curso natural para a maioria dos seres humanos. Após a morte, nossas células liberam enzimas. Isso cria um ambiente ideal para a proliferação de fungos e bactérias, que auxiliam na decomposição do corpo. Isso que observamos na foto (apesar de parecer estranho), pode ocorrer de várias maneiras. Se a temperatura do local for alta, o corpo se desidrata antes que as enzimas entrem em ação, aí ocorre a mumificação. O processo inverso também pode ocorrer porque o frio inibe a atividade das bactérias. Em igrejas (criptas) e túmulos de cimento (o que observamos na foto) é mais comum encontrarmos a mumificação de corpos; a temperatura é baixa, em geral há boa ventilação e, normalmente, as construções por cima as protegem d’água. Agora é interessante observar a presença d’água nesta foto, talvez por conta das últimas chuvas. Em contrapartida, a água auxilia na decomposição… Outros fatores de preservação é a presença de metais pesados no solo, a presença de pouca gordura no corpo e até mesmo certos tipos de musgos (shagnum ou esfagano) eles criam alterações químicas capazes de frear a atividade microbiana, o que auxilia na preservação dos tecidos. Enfim, vários fatores juntos auxiliaram neste caso raro. Nada de outro mundo.”
Mumificação
Segundo o médico Diogo Lopes Dias, do site brasilescola.uol.com.br, define-se mumificação como o fenômeno natural ou artificial de preservação de um corpo. Nesse processo, a putrefação ocorre vagarosamente, ao longo de muitos e muitos anos.
A ideia de manter um corpo em bom estado após a morte foi colocada em prática por diversas civilizações, como maias, incas e egípcios. Quimicamente falando, a mumificação é um procedimento realizado para tornar mais lento ou interromper o impiedoso processo de decomposição do corpo. Para alcançar esse objetivo, é fundamental eliminar a ação das enzimas (lípases, proteases e amilases) e micro-organismos responsáveis pelo processo, privando-os da presença de água e também do ambiente químico de que necessitam para atuar.
Há muito tempo as sociedades não apresentam mais a preocupação em preservar o corpo de pessoas falecidas. Porém, muitas vez, é necessária a preservação do corpo em virtude da distância entre o local do falecimento e o local onde o corpo será velado e enterrado, como no caso ora enfocado.
Umas das formas mais utilizadas de preservação é o embalsamamento. Hoje em dia, utiliza-se o formaldeído (formol) misturado com o fenol comum para conservar o corpo para o funeral. Essa mistura é injetada no organismo após a retirada de fluidos corporais, como o sangue. Após a evaporação do formaldeído, começa a ocorrer a ação microbiana, que causa a degradação do corpo.
(Obs.: Fotos retiradas da matéria a pedido de familiares)