Em entrevista à Globo, Sarí diz não ter medo da prisão e que vai esperar a Justiça

Diário de Pernambuco

“Eu sinto que fiz tudo que eu podia. E, se eu pudesse voltar no tempo, eu voltava. Se eu soubesse que tudo isso ia acontecer, eu voltava no tempo e ainda tentava fazer mais do que eu fiz naquela hora.” A frase é da primeira-dama de Tamandaré, Sarí Corte Real, em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, neste domingo (5), ao responder à repórter Beatriz Castro se sentia algum tipo de culpa ou arrependimento. Em seguida, Sarí é questionada sobre o que faria de diferente. E responde: “Esperava mais. Não sei, não sei dizer. Eu só sei que eu fiz, naquela hora, tudo o que eu podia. E, em nenhum momento, eu fiz nada prevendo o que aconteceu.”

Era 2 de junho quando Mirtes Souza, mãe de Miguel Otávio, 5 anos, saiu para passear com um cão de Sarí, com quem trabalhava como doméstica. O menino ficou aos cuidados da patroa. O fato aconteceu no Edifício Píer Maurício de Nassau, área central do Recife. Momentos depois, o menino caiu de uma altura de nove andares e morreu. A investigação da Polícia Civil com base em imagens captadas em câmeras do prédio apontou que Sarí deixou a criança sozinha no elevador.

Ao longo da entrevista, a repórter pergunta como foi no momento em que Sarí viu o garoto no chão. “No primeiro momento, o que eu imaginei foi em socorrer, o que a gente podia fazer por ele… Eu dirigi, só Deus sabe como eu dirigi. Nunca cheguei tão rápido na minha vida num hospital. Eu fiquei com ela lá até por volta de 16h30, 16h45, que foi quando eu tive que vir para casa. Minha amiga precisava voltar para casa, para eu poder ficar com a Sofia”, comentou.

Na semana passada, a primeira-dama foi indiciada e deve responder por abandono de incapaz que resultou em morte. A pena varia de quatro a doze anos e é maior que a de homicídio culposo, de três anos, entendimento inicial do delegado do caso.

Sarí também afirmou que não previu a tragédia ao deixar a criança sozinha no elevador. “Eu não achei que seria essa tragédia. Eu acreditei que ele voltaria para o andar. Até porque ele sabia os números, sabia tudo. Eu imaginei que ele voltaria para o andar.”

Em outro momento, a repórter pergunta: “O delegado coloca no relatório que você não olhou no painel para saber o que aconteceu com o elevador: se ele subiu, se ele desceu. Você não se preocupou com o que ia acontecer depois?” Sarí responde: “Na mesma hora eu liguei para Mirtes. Mas, ao mesmo tempo, eu estava tentando acalmar a minha filha, que também estava desesperada com a situação. Eu me via ali, naquela situação, com toda aquela movimentação: minha filha, ele. Eu me senti ali naquela situação, sem conseguir falar com Mirtes, minha filha. Foi tudo muito rápido. Foi tudo muito rápido.”

Sarí também justificou porque não tirou Miguel do elevador: “Porque o maior contato que eu tive com Miguel foram nesses dois meses na pandemia e, todas as vezes que precisou ser chamada a atenção dele, todas as vezes, eu solicitava ou a mãe ou a avó que fizessem isso. Eu nunca me dirigi diretamente a ele para repreender ele em nada. Sempre a mãe ou a avó. Eu não me senti segura para isso.”

Quanto ao resultado do inquérito, Sarí disse que não esperava a tipificação do crime. Também disse não ter medo da prisão. “ Não, até hoje eu estou aqui firme, porque muita gente depende de mim. E, se lá na frente, o resultado for esse, eu vou cumprir o que a lei pedir. Eu acho que está na mão da Justiça, não cabe a mim, não cabe à mãe de Miguel julgar, não cabe à sociedade. Cabe à Justiça. Eu vou aguardar o que a Justiça decidir.”