Ainda com os resquícios do período patriarcal, Pernambuco é um Estado que guarda os traços de uma sociedade marcada pelo machismo. O quadro é refletido nas principais esferas de poder.
Apesar de a mulher ter conquistado o direito ao voto há mais de 83 anos, o acesso às urnas não garantiu o ingresso nas Casas Legislativas. Na história política de Pernambuco, tivemos apenas três mulheres eleitas deputadas federais: Cristina Tavares (1983-1987), Ana Arraes (2007-2011) e Luciana Santos, que está no segundo mandato.
Nas eleições de 2014, apesar de 53,4% do eleitorado em Pernambuco ser composto por mulheres, elas representavam menos de um terço do número total de candidatos a um cargo eletivo no Estado.
Nos quadros da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) a participação feminina também é pequena. Dos 49 parlamentares, apenas cinco são mulheres. Comportamento semelhante segue a Câmara dos Vereadores, dos 39 edis apenas cinco são do sexo feminino.
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Embora a alteração do artigo 10, da Lei 9.504/97, de setembro de 2009, estabelecer o número mínimo de 30% das vagas destinadas às mulheres em cada partido ou coligação, a mudança ainda não está refletida na sociedade. A equidade entre os gêneros ainda é meta distante.
No segundo mandato federal, a deputada Luciana Santos, a única mulher de Pernambuco a ter cadeira na Câmara federal, se divide entre os trabalhos legislativos e os cuidados com a filha de 3 anos. A ponte aérea entre Brasília e Recife é constante, mas depois da Semana Santa deve diminuir, porque Luciana assume a presidência nacional do PC do B e deve ampliar as viagens pelo Brasil.
“Isso no meu entender tem a ver como o machismo na sociedade. Quando se escolhe esta carreira é preciso romper muitas amarras para poder ser valorizada”, considera a parlamentar. “Isso se deve a uma questão cultural, são necessárias mais políticas públicas que representem o público feminino. O fundo partidário busca a equiparação e o papel do TSE é fundamental, mas ainda estamos muito distantes da equidade”, observou a deputada federal, eleita com mais de 85 mil votos.
Em defesa de uma reforma política que amplie a inclusão de mais mulheres nas esferas de poder, a deputada acredita que a única saída é persistir nas políticas afirmativas. “Só depois de uma reforma política ampla, que obrigue as mulheres a ocuparem as vagas e não só as chapas é que vamos conseguir mais o ingresso de mulheres.”
ALEPE – Neófita em cargos eletivos, a deputada estadual Simone Santana (PSB) está há dois meses na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) e sente no dia a dia a predominância masculina na Casa e costura inserção nas discussões da esfera legislativa.
“Está sendo um período muito desafiador. A gente sabe que há essa coisa subliminar do machismo, mas não me sinto discriminada, procuro me inserir nas discussões.
Há dois meses na Casa, Simone ainda não apresentou projetos de lei, mas levou para discussão projetos federais que incluem o assassinato de mulheres por questão de gênero, chamado de feminicídio, como crime hediondo e homicídio qualificado. A matéria aguarda sanção da presidente Dilma Rousseff.
A deputada também destacou o projeto de lei apresentado pelo senador Fernando Bezerra Coelho (PSB) esta semana que prevê uma multa para empresas que paguem salários diferentes para homens e mulheres que ocuparem a mesma função.
Simone está à frente da presidência da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, e acredita que as políticas públicas voltadas para a primeira infância são fundamentais para novas conquistas femininas. A formação como médica pediatra e a experiência como coordenadora do Programa Mãe Coruja de Ipojuca foram fatores decisivos para o desenvolvimento da afinidade da parlamentar com o tema.