Diário de Pernambuco – Em época de eleição, a cada semana há a expectativa sobre quem tem mais chances de vencer e ocupar o mais alto na disputa. As pesquisas eleitorais vêm como uma pista de quem pode ser o escolhido. E com elas, a pergunta: quando sairá a próxima pesquisa?
São esses números que vão nortear as campanhas, mostrar as tendências aos eleitores e até mudar os rumos do pleito. Na verdade, pesquisa eleitoral é uma questão de ciência. Existe todo um protocolo com regras rígidas, não basta ir para a rua e perguntar qualquer coisa para as pessoas.
Além de mostrar as intenções de voto durante o período de eleições, a pesquisa eleitoral também tem como função indicar erros e acertos de candidatos nas campanhas, redirecionar estratégias e até forçar alianças. Faltando pouco menos de um mês para as eleições de 2024, o Diario de Pernambuco explica como funciona uma pesquisa eleitoral e conta “causos” de pesquisas em pleitos antigos.
Pesquisa Eleitoral
Segundo o cientista político Hely Ferreira, existem dois tipos de pesquisa eleitoral: a qualitativa e a quantitativa. A primeira é a realizada pelos candidatos. “A pesquisa qualitativa dá um norte ao candidato do que deve apresentar, as propostas, como fazer o guia eleitoral, porque ela mostra o que o eleitor quer ouvir. Então, muitas vezes o candidato começa a fazer promessas que vão de encontro ao que ele acredita, ao que o partido defende, mas ele diz isso no intuito de atingir o eleitorado, já que a pesquisa mostra o que o eleitor tem mais interesse”, pontua.
“Por exemplo, o guia eleitoral vai hoje ao ar, no outro dia o instituto de pesquisa, que trabalha para o candidato, vai ouvir o que foi que o eleitor gostou e o que não gostou. E o próximo guia será montado a partir dessa pesquisa qualitativa”, completa o cientista político. Já a quantitativa é a mais conhecida. Essa é a pesquisa que se aguarda com expectativa por ser um termômetro tanto para os eleitores quanto para candidatos de quem está à frente na disputa. É com esta pesquisa que se sente como estão as intenções de voto nas regiões e “faz com que o candidato que está fraco possa tentar se esforçar para crescer mais, e quem está na frente, administrar o que já tem”, explica Hely Ferreira.
“A pesquisa é um cenário provável dentro de uma radiografia do momento. Nas entrevistas, entre as perguntas estão: ‘se a eleição fosse hoje, em quem você votaria?’ E outra é: ‘se a eleição fosse hoje, em quem você não votaria?’”, pontua. Ferreira explica, também, que essas perguntas são feitas porque “a sociedade é dinâmica”, e em um momento o eleitor pode escolher votar em um determinado candidato e no dia seguinte, não, por conta de fatos que acontecem no dia a dia.
Isso pode ser visto em eleições em que a pesquisa eleitoral apontou um candidato à frente nas pesquisas, e no dia da eleição, com a abertura das urnas, o resultado foi discrepante do estimado, justamente por conta de fatores externos. “Em 1986, Roberto Magalhães era candidato ao Senado, tinham duas vagas. A pesquisa mostrava que Roberto era o senador mais votado do Brasil. A chegada de Arraes para candidatura do governo do Estado dizendo que ‘faça como eu e vote nos dois’, tirou a eleição de Roberto”, relembra.
Um outro caso, também citado pelo cientista político, aconteceu em 1982, quando Clodoaldo Torres foi o deputado estadual mais votado de Pernambuco. “O que aconteceu? Ele levou quatro tiros em um comício, isso mudou o cenário”, relembra, sobre a vitória de Torres.
Como é feita uma pesquisa eleitoral?
Uma pesquisa é feita com um grupo pequeno de pessoas que, na estatística, ciência base para as pesquisas eleitorais, é chamado de “amostragem”. Esse grupo é selecionado seguindo características que possam representar toda a população de um local. O professor de estatística e coordenador da Fafire Inteligência de Mercado, João Paulo Nogueira, explica como acontece essa seleção. “Eu tenho 200 mil pessoas em uma cidade aptas a votar. Eu não vou entrevistar todas elas, eu não tenho verba para comprar uma pesquisa desse porte. Então, eu vou determinar quantas pessoas eu tenho que entrevistar de forma que eu consiga garantir que o que essas pessoas vão falar é representativo para o total da minha cidade”, contextualiza.
Para que se tenha uma garantia de que esse grupo de pessoas seja representativo, “cada instituto de pesquisa tem uma metodologia específica para trabalhar e não existe nenhum padrão. Se eu tenho em uma cidade em que 70% são mulheres, então em minha amostra, eu vou procurar entrevistar 70% de mulheres também. Nisso, você pode fazer o mesmo cálculo para pessoas de diferentes rendas, sexo, como no exemplo, idade e assim por diante”, explica o professor.
Para descobrir quais entrevistados serão selecionados, o professor João Paulo Nogueira conta, ainda, que os institutos de pesquisa (como o IPEC, DataFolha e Exatta) realizam um questionário com alguns selecionados e, a partir disso, filtram quais pessoas se encaixam no esperado da população total da região pesquisada.
Após a seleção da amostragem e com a resposta dos questionários, os responsáveis a frente da pesquisa realizam um cálculo matemático. É nesse cálculo, como explica o professor, que se estimará o nível de confiança que se quer na pesquisa. “Por exemplo, o nível de confiança padrão em pesquisas eleitorais é em torno de 95%. Isso tem a ver com reprodutibilidade. Se eu fiz uma pesquisa e deu que candidato X tem 25% de intenções de voto, considerando 95% de nível de confiança, se eu fizer 100 pesquisas dessa, 95 delas darão o mesmo resultado dentro da margem de erro”, afirma.
No mesmo cálculo, se estipulará a margem de erro para essa pesquisa. “Se você quer uma margem de erro de no máximo 3%, então você aplica na fórmula. E, nessas 95 pesquisas que eu fizer, meu resultado estará entre essa margem”, conclui.