Em meio ao descrédito generalizado da classe política, cresce o desejo dos brasileiros de ter no comando dos espaços executivos candidatos fora do establishment, os chamados outsiders, aqueles que não fazem parte do sistema político/partidário tradicional, mas que podem, pelo menos no imaginário coletivo, fazer algo diferente. Esse desejo já vem sendo observado por diversas pesquisas de opinião que tentam prever o que se passa na cabeça do eleitorado depois do turbilhão que virou a vida política nacional.
É nesse cenário que podem se consolidar candidaturas como a do apresentador Luciano Huck, cujo nome foi sondado pela primeira vez pelo Ibope na semana passada e já aponta com 8% de intenções em um cenário sem Luiz Inácio Lula da Silva, e com 5% caso o ex-presidente esteja no páreo. Sua intenção de voto já é, por exemplo, maior que a de dois caciques tucanos paulistas: o governador Geraldo Alckmin, cotado para ser o candidato do partido ao Palácio do Planalto, e o prefeito João Doria, em franca campanha para ser o nome da legenda na disputa pelo comando do país.
Outros nomes que de tempos em tempos surgem são os do procurador Deltan Dallagnol e do juiz Sérgio Moro. Ambos ganharam status de celebridade diante da repercussão da Operação Lava-Jato, a maior investigação de casos de corrupção do país, que descobriu um megaesquema de desvio de dinheiro na Petrobras.
A última especulação em torno de uma eventual candidatura de Huck, seria uma composição com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), cujo nome também é cotado, para fazer contraponto a uma possível polarização na disputa, já indicada pelas pesquisas, entre Lula e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), cujas posições extremamente conservadoras podem assustar o mercado.
Continua…
O apresentador global tem tido reuniões com algumas siglas políticas, economistas e empresários que querem torná-lo candidato, mas a desculpa para os encontros é o lançamento de um movimento de milionários que pretende criar um fundo para financiar algumas candidaturas ditas independentes.
Huck nega que seja candidato e, recentemente, reafirmou essa posição nas redes sociais. “Acho engraçado… As pessoas leem as mesmas palavras, mas cada uma interpreta de um jeito diferente. Então vamos ser mais claros: não estou me lançando a nada, escrevi claramente ‘reafirmo que continuo achando que de onde estou, fora do dia a dia da política, minha contribuição pode ser mais efetiva e relevante. Mas como cidadão, quero e vou apoiar os movimentos de renovação política’”, reiterou Huck.
REFLEXO DA LAVA-JATO
Também cotado como candidato outsider está o procurador da força-tarefa da Lava-Jato Deltan Dallagnol. Recentemente, ele admitiu pela primeira vez uma eventual candidatura, mas garante que essa possibilidade não é para 2018. “Hoje não tenho pretensões políticas. Fui convidado por quatro partidos, mas educadamente recusei”, disse ele, para depois deixar a possibilidade em aberto. “Não descarto no futuro servir em diferentes posições públicas ou privadas”, complementou.
O nome de Dallagnol é cotado para um vaga no Senado pelo Paraná. Especulações dão conta de que ele teria tratado disso com o senador Álvaro Dias, que deixou o PSDB recentemente para migrar para o Podemos, antigo PTN, legenda que poderia abrigar o procurador.
“A especulação sobre esse assunto é falsa. A única vez em que conversei com ele foi sobre o projeto envolvendo o fim do foro privilegiado. Também não tive quaisquer tratativas com Marina Silva ou a Rede sobre candidatura. A especulação também é falsa. Jamais tive, aliás, qualquer contato direto com Marina Silva. Além disso, nunca conversei com qualquer partido político sobre minha filiação ou candidatura”, afirmou o procurador por meio de sua página no Facebook, onde é muito ativo e já contabiliza quase 700 mil seguidores.
Segundo ele, “qualquer notícia nesse sentido é falsa. Meu foco profissional atualmente é apenas a Lava-Jato e a busca de mudanças que possam contribuir para a diminuição dos índices de corrupção no Brasil”.
Outro fora do meio político, o juiz Sérgio Moro, que coordena as ações da Lava-Jato na primeira instância, já teve seu nome incluído nas sondagens, mas, na mais recente, ele não apareceu na estimulada nem mesmo na espontânea. De qualquer forma, Moro nega qualquer interesse em largar a carreira jurídica. “Penso que precisa ter um certo perfil e, sinceramente, não me vejo com esse perfil. Fiz uma opção na minha carreira pela magistratura. Não me vejo e já disse mais uma vez e reitero quantas vezes forem necessárias, não sou candidato, não serei candidato. Nada disso”, afirmou em entrevista recente.
FENÔMENO NA DISPUTA MUNICIPAL
Para o cientista político Malco Camargos, nomes fora dos grandes partidos e do meio político podem ser a bola da vez na disputa de 2018. Malco lembra que esse fenômeno já ocorreu nas eleições municipais de Belo Horizonte com a vitória do prefeito Alexandre Kalil, cartola, neófito na política, eleito por um partido pequeno – o PHS – sem tempo na televisão e com poucos recursos financeiros. O próprio João Doria se elegeu em São Paulo com uma plataforma em que dizia não ser “político profissional”.
Segundo ele, antes, esse tipo de candidatura tinha pouca ou quase nenhuma chance, pois alguns dos pressupostos para um desempenho vitorioso era estar em um partido grande com tempo de televisão, capilaridade e recursos financeiros, fazer boas alianças para ter respaldo de grupos políticos fortes. “Isso agora mudou, não só pelo desânimo da população com o flagelo da nossa política, mas também por conta das redes sociais e das mudanças no sistema de financiamento”, afirma.
Para ele, nesse cenário há grande chances de candidatos para além dos já colocados nas pesquisas de opinião: líderes evangélicos com grande patrimônio, alta cúpula do jogo do bicho ou do tráfico de drogas e personalidades da mídia. A terceira opção, na qual Huck se encaixa, é a mais viável, acredita o especialista. “O apresentador é conhecido, querido, transita bem em diversas classes sociais, tem valores liberais e possibilidade de angariar apoios financeiros para sua campanha.”
Camargos lembra que foi em um contexto extremamente parecido com o que o Brasil enfrenta hoje que a Itália elegeu, após a Operação Mãos Limpas, que inspirou a Lava-Jato, um milionário dos meios de comunicação – Sílvio Berlusconi – para o comando do país, em 1994.