Por: Guilherme Anjos/Diário de Pernambuco – “Não vamos desistir do Brasil”. Há dez anos e um dia, o ex-governador Eduardo Campos (PSB) encerrava, com esta frase, seu último pronunciamento à nação, apenas algumas horas antes do fatídico acidente de avião que tirou a sua vida e de outras seis pessoas no dia 13 de agosto de 2014.
O discurso marcou os últimos um minuto e meio de sua entrevista no Jornal Nacional, da TV Globo, como parte de sua campanha à Presidência da República, que marcaria um novo pico de sua trajetória política.
Neto de um dos maiores líderes políticos de Pernambuco, o ex-governador Miguel Arraes, Eduardo conquistou seu primeiro mandato em 1990, como deputado estadual. Quatro anos depois, em 1994, deixou a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) pela Câmara dos Deputados, onde também foi líder do PSB.
Em 2006, foi eleito governador de Pernambuco, onde liderou uma gestão que marcaria seu nome no rol de ícones da política estadual. “Sua gestão foi marcada por um forte investimento em infraestrutura, educação e saúde, que alavancou o estado em índices sociais e econômicos. Eduardo adotou políticas de incentivo à atração de investimentos privados, promovendo o crescimento industrial e a geração de empregos, o que lhe rendeu altos índices de aprovação”, explica o cientista político Sandro Prado.
“Ele é lembrado por ter implementado um modelo de governança que combinava eficiência administrativa com responsabilidade social, com programas, como o Pacto pela Vida, voltado à redução da criminalidade, e o Todos por Pernambuco, que buscava a participação popular na definição de políticas públicas”, acrescentou.
Lembrado por aliados e adversários como um grande articulador, Eduardo também estendeu seu legado para além do seu trabalho em Pernambuco. Antes mesmo de assumir o executivo, foi ministro da Ciência e Tecnologia do presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT).
Em Brasília, costurou importantes alianças que transformaram a hierarquia de poder entre os partidos.
“Eduardo foi uma figura chave na reconfiguração do PSB, transformando-o em uma força política relevante no Brasil. Sua capacidade de articulação e construção de alianças fez com que o partido ganhasse maior protagonismo nas disputas eleitorais, como uma alternativa ao domínio tradicional do PT e PSDB”, afirma Prado.
Mas em meio às conquistas, a centralização do poderio do PSB na figura de Eduardo Campos proporcionou, como parte de seu legado, um vácuo de poder. E mesmo se mantendo à frente do estado por mais oito anos com os mandatos de Paulo Câmara, os socialistas sentiram a perda do vigor trazido pelo finado líder, culminando na derrota para Raquel Lyra (PSDB) nas eleições de 2022.
“A morte de Eduardo foi um golpe devastador para seu grupo político. Seus aliados no PSB tiveram que enfrentar a difícil tarefa de manter a coesão do partido e continuar as políticas iniciadas por Eduardo, sem o carisma e a habilidade política que ele possuía”, disse Prado.
O mesmo choque foi sentido no âmbito nacional, com a perda de um protagonista entre os socialistas que pudesse dar continuidade ao trabalho de Eduardo.
“Sem sua principal liderança, o PSB não conseguiu ocupar o espaço político que ele havia começado a construir. Eduardo tinha o potencial para emergir como uma verdadeira terceira via, especialmente em um momento de crescente polarização. Sua capacidade de articulação e visão de um Brasil desenvolvido, com foco em inovação e inclusão social, poderiam ter ressoado com uma parcela significativa do eleitorado em 2014”, analisa o cientista político.
Prado acredita, no entanto, que a principal herança de Eduardo está apenas começando a dar frutos políticos, com seus filhos João Campos, prefeito do Recife e candidato à reeleição, e Pedro Campos, deputado federal.
“A continuidade de seu legado volta à tona com o seu filho João Campos, que têm tido um grande destaque na política pernambucana e é um forte concorrente ao governo do estado. Ele poderá ter uma trajetória tão vencedora como a de Eduardo ou até superá-lo, se tornando, quem sabe, presidente da república”, pontuou.