Economistas dizem que Brasil não quebrou e criticam postura de Bolsonaro

FolhaPress

A declaração do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de que o Brasil está quebrado e que não pode fazer nada recebeu críticas de economistas. Para especialistas ouvidos pela reportagem, o presidente usou o conceito de forma equivocada e gerou ruídos que podem trazer impactos negativos para o país.

“Chefe, o Brasil está quebrado, eu não posso fazer nada. Eu queria mexer na tabela do Imposto de Renda, teve esse vírus, potencializado por essa mídia que nós temos. Essa mídia sem caráter. É um trabalho incessante de tentar desgastar para tirar a gente daqui e atender interesses escusos da mídia”, disse o mandatário nesta terça-feira (5).

A economista Elena Landau afirma que o uso do termo “quebrado” foi banalizado por Bolsonaro. Para ela, a declaração traz uma mensagem muito negativa para o mercado, dando impulso para uma perda de confiança no país em um momento que o governo passa por uma crise fiscal e depende do investimento privado.

“O que os credores internacionais, o que os credores do Tesouro vão imaginar quando o próprio presidente da República diz que o país quebrou? Isso significa que o país não tem capacidade de pagar aquilo que ele deve”, afirmou.
Para Elena, Bolsonaro ainda tenta tirar de sua alçada a competência sobre medidas que deveriam ser tomadas para mitigar a crise. Ela ressalta que o presidente tem priorizado pautas favoráveis aos militares e que reforçam o Orçamento das Forças Armadas em vez de focar em assistências como o auxílio emergencial.

“É de uma irresponsabilidade muito grande, só cria uma situação de instabilidade nas áreas de juros e câmbio, além de ele fazer parecer que não tem responsabilidade sobre isso. Onde estão as privatizações que iam fazer, cadê as reformas, cadê o Orçamento de 2021?”, disse.

Na avaliação do economista Raul Velloso, especialista em finanças públicas, o conceito usado pelo presidente está errado.
“Alguém precisa dizer para ele que nenhum país em emergência quebra. Mesmo fora da emergência, especialmente um país como o Brasil, que não depende de dólar para financiar sua dívida”, disse.

De acordo com Velloso, a crise sanitária que o país vive é inédita e depende de ações do governo. Para ele, o pagamento do auxílio emergencial é necessário e essa discussão não deveria ser bloqueada pelo presidente.
“Em uma crise, você só precisa ter uma justificativa. E a justificativa é que as pessoas vão morrer na rua se a gente não ajudar [com o auxílio emergencial]. As pessoas estão sendo confinadas, e agora com a segunda onda”, disse.

Segundo a economista Juliana Damasceno, pesquisadora do Ibre FGV, só seria possível dizer que o país quebrou depois que fossem esgotadas todas as possibilidades de solução para o problema fiscal, o que ainda não ocorreu.
“A declaração dele de que o país está quebrado soa como se não houvesse nada que possa ser feito, o que não é verdade”, afirmou.

Juliana diz que o governo não tem conseguido articular e avançar com propostas que dariam fôlego para as contas públicas, como a revisão de incentivos fiscais, reformulação de programas sociais, reforma administrativa, privatizações, correções no teto de gastos e outras medidas de ajuste.

“Existe uma série de ações que o governo poderia fazer antes de dizer que está quebrado. Se o país está quebrado é porque nós não fizemos o dever de casa e nos recusamos a fazer alguma coisa agora, continuamos na inércia”, disse.