Do rompimento com a igreja à beatificação: quem foi padre Cícero Romão Batista

Padre Cícero Romão Batista, que teve o processo de beatificação na Igreja Católica autorizado pelo Vaticano, conforme anunciado pelo bispo da diocese do Crato, Dom Magnus Henrique Lopes, neste sábado (20), nasceu no dia 24 de março de 1844, na cidade do Crato, no interior do Ceará.
Aos 12 anos, influenciado pela leitura da vida de São Francisco de Sales, fez voto de castidade. Em 1865 ingressou no Seminário da Prainha, em Fortaleza. Aos 26 anos foi ordenado a padre e retornou ao Crato. Nesse tempo, lecionou Latim em um colégio local.
O primeiro contato de padre Cícero com o povoado que se tornaria a cidade de Juazeiro do Norte ocorreu em no Natal de 187, quando celebrou a tradicional Missa do Galo.
Estátua de Padre Cícero, no Horto, em Juazeiro do Norte — Foto: Gustavo Pellizzon/SVM
Estátua de Padre Cícero, no Horto, em Juazeiro do Norte — Foto: Gustavo Pellizzon/SVM
O religioso pregava o evangelho, aconselhava, dava confissões e acompanhou o crescimento da comunidade, ganhando o carinho dos moradores.
Padre Cícero ou “Padim Ciço”, é considerado “santo popular” para muitos fiéis católicos nordestinos. Todos os anos, as romarias em homenagem a ele atraem milhões de romeiros a Juazeiro do Norte. O padre visitante, então aos 28 anos, gostou tanto do local que retornou meses depois, para fixar residência.

Milagre da hóstia’

Em 1º de março de 1889 um fato mudou a vida de padre Cícero. Durante uma missa ministrada pelo sacerdote à religiosa Maria de Araújo recebeu a comunhão das mãos do padre e a hóstia se transformou em sangue na boca da beata.
O fenômeno se repetiu algumas vezes durante cerca de dois anos e logo se espalhou a notícia do milagre em Juazeiro do Norte, fazendo o local virar atração de romeiros em busca de padre Cícero.
Padre Cícero morreu em 1934 rompido com o Vaticano por envolvimento com a política e pelo polêmico “milagre da hóstia”.
Em 2015, o Vaticano atendeu ao pedido do bispo Dom Fernando Panico e reconciliou o padre Cícero Romão Batista com a igreja católica. Com a reconciliação, não havia mais impeditivos para a abertura do processo de beatificação do “santo popular”.
Padre Cícero ou “Padim Ciço”, como é carinhosamente chamado, é considerado “santo popular” para muitos fiéis católicos nordestinos. Todos os anos, as romarias em homenagem a ele atraem milhões de romeiros a Juazeiro do Norte.

Autorização para beatificação

A informação da autorização do Vaticado para o início do processo de beatificação de padre Cícero foi anunciada pelo bispo da diocese do Crato, Dom Magnus Henrique Lopes, durante missa realizada na manhã deste sábado (20), no Largo Capela do Socorro, em Juazeiro do Norte.
“Queridos filhos e filhas da Diocese do Crato, romeiros de todo Brasil, é com grande alegria que eu vos comunico nesta manhã histórica que recebemos oficialmente da Santa Sé, por determinação do santo padre, o papa Francisco, uma carta do dicastério para a causa dos santos, datada do dia 24 de junho de 2022. Recebemos a autorização para a abertura do processo de beatificação do padre Cícero Romão Batista que, a partir de agora, receberá o título de servo de Deus”, disse Dom Magnus Henrique Lopes.
O pedido para a autorização da beatificação foi solicitado por Dom Magnus Henrique Lopes , através de uma carta entregue ao papa Francisco durante a visita ao Vaticano, em maio deste ano. Foi
“Recorremos a vossa solicitude de pastor universal da santa igreja para pedir especial clemência para com este sacerdote católico, amado, exonerado. Esperamos que Vossa Santidade, na hora oportuna, examine, com o coração de pai e como sucessor de Pedro, este pedido ora formulado, cuja resposta é um anseio nosso e dos milhões de devotos do padre Cícero”, diz um trecho da carta entregue por Dom Magnus ao papa Francisco.
Centenas de fiéis que estavam na missa no Largo da Capela do Socorro, em Juazeiro do Norte, no interior do Ceará, acompanharam o anúncio da autorização do processo de beatificação de padre Cícero. — Foto: Diocese do Crato/ Divulgação

Centenas de fiéis que estavam na missa no Largo da Capela do Socorro, em Juazeiro do Norte, no interior do Ceará, acompanharam o anúncio da autorização do processo de beatificação de padre Cícero. — Foto: Diocese do Crato/ Divulgação

O trecho foi lido pelo bispo da diocese do Crato durante o anúncio da autorização do processo de beatificação de padre Cícero. A notícia foi recebida com salva de palmas e fogos por centenas de fiéis que estavam no local.

Processo de beatificação

Para concluir a beatificação, o Vaticano faz inicialmente um levantamento da biografia do candidato para verificar se há algum fator na biografia que possa impedir o processo. Se nada for encontrado, a igreja emite o Nihil Obstat (nenhum impeditivo), um documento formal, redigido em latim e dirigido ao bispo indicando que o pode haver continuidade do processo.
“É a partir deste documento que o candidato à santidade passa a ser chamado Servo de Deus e tem a investigação livre para desenrolar-se até o fechamento do processo”, explica o advogado e especialista em Direito Canônico José Luís Lira.
Em seguida, será constituído um tribunal eclesiástico diocesano que vai aferir as qualidades, as virtudes e constatar toda a vida do Servo de Deus.
Após a conclusão da fase diocesana, os documentos são encaminhados para o Vaticano, onde inicia-se a fase romana. O Vaticano avalia relatos de milagres, graças e atos que possam dar status de beato a Padre Cícero.
“Uma vez constatada, ele é automaticamente declarado como ‘venerável’. Se houver um milagre consistente, nos modos que a Santa Sé exige, com laudos médicos e toda documentação cabível, é iniciada a fase de beatificação. Aprovado o milagre, o papa autoriza a beatificação. Depois de se tornar beato, é necessário outro milagre para a canonização”, conta Luís.