Desde que o Partido dos Trabalhadores chegou a prefeitura do Recife na histórica eleição de João Paulo contra Roberto Magalhães que o partido cometeu uma série de erros estratégicos que fizeram da sigla uma legenda coadjuvante no processo político estadual. Em 2006, por exemplo, o nome mais forte para disputar o governo de Pernambuco era João Paulo, então prefeito do Recife bem-avaliado e que tinha obtido duas vitórias para a PCR de forma incontestável, mas acabou sendo preterido por Humberto Costa, que conquistou naquele pleito mais uma derrota majoritária para a sua coleção.
Nas eleições de 2010, novamente João Paulo era o nome natural para o Senado, pois tinha elegido João da Costa, um ilustre desconhecido, prefeito do Recife apenas pelo seu prestígio. Foi novamente preterido por Humberto, que apesar de ter sido eleito senador, ficou em segundo lugar após liderar todo o processo eleitoral. João Paulo, por sua vez, elegeu-se deputado federal com uma expressiva votação.
Nas eleições de 2012 tivemos o episódio mais emblemático envolvendo o PT que foi o estupro dado pela executiva nacional em João da Costa, que era prefeito e candidato natural a reeleição. João da Costa foi obrigado a submeter-se a prévias, venceu a disputa contra Maurício Rands, e viu Humberto Costa ser ungido como candidato rasgando as prévias realizadas no Recife. Humberto foi para a disputa e amargou mais uma derrota, desta vez ficando em terceiro lugar, perdendo para o neófito Daniel Coelho e o prefeito eleito Geraldo Julio, apoiado por Eduardo Campos que assistiu de camarote a derrocada do PT. A cereja do bolo foi o partido colocar João Paulo naquela enrascada como candidato a vice.
Em 2014, já afastado do PSB, o partido decidiu ser linha auxiliar de Armando Monteiro, lançando João Paulo para o Senado. João, que tinha uma eleição líquida e certa de deputado federal, entrou novamente numa barca furada e ficou sem mandato. Em 2016 não foi diferente. João Paulo aventurou-se numa disputa de prefeito do Recife contra Geraldo Julio e mesmo tendo sido bem votado e chegado ao segundo turno, sofreu nova derrota. João não teve a menor estrutura do PT, e até hoje sofre com o passivo da campanha.
Depois de chamar o PSB de golpista e incentivar a candidatura de Marília Arraes, Humberto Costa mudou completamente de ideia. Agora deseja ficar nos braços do governador Paulo Câmara para tentar a reeleição na chapa socialista. A candidatura de Marília Arraes, por sua vez, conquistou as bases do PT, e caso não haja uma decisão favorável à Marília, que é mais provável, deverá haver uma confusão do tamanho da que ocorreu com João da Costa. O fato é que, dividido entre os pró-Marília e os pró-PSB, o PT não conseguirá agradar ninguém em qualquer que seja o desfecho e deverá caminhar para uma fragilidade ainda maior no estado, sobretudo se Marília disputar o governo e for derrotada ou se Humberto for para o Senado na chapa de Paulo Câmara e conseguir mais uma derrota para a sua coleção. (Edmar Lyra)