O Imparcial
Reprodução de trechos da entrevista do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) ao jornal O Imparcial, de São Luís:
(…) O Imparcial: Bolsonaro se referiu ao senhor como “o pior” dentre os governadores “de Paraíba”. O que o senhor acha disso?
Flávio Dino: Em primeiro lugar, é muito lamentável que o presidente da República se dirija a uma parte do país de modo depreciativo, utilizando uma expressão marcadamente preconceituosa e que embute essa visão de superioridade de alguns sobre outros. Então, nossa primeira atitude é de defesa do nosso estado, da nossa região e, portanto, de repúdio, protesto e indignação a esse tipo de tratamento, que pode ensejar inclusive medidas de ordem judicial. Em segundo lugar, nós infelizmente confirmamos que o presidente da República é movido por um sentimento de sectarismo, de divisão do país, de extremismos e de busca de conflito e de confronto permanente como instrumento de exercício do Governo, que constitui uma anomalia – algo indesejável, pois atrapalha o desenvolvimento do país. Em terceiro lugar, do ponto de vista pessoal, fica uma indignação por uma agressão injusta, desrespeitosa em relação ao trabalho sério que é feito no nosso estado. (…)
O Imparcial: O senhor acha que essas constantes quebras de decoro do presidente podem ser motivo de um Impeachment?
Flávio Dino: Nós temos o artigo 85, da Constituição, que é regulado pela lei 1079. Permanentemente, ele vem se aproximando da incidência desses dispositivos normativos. É uma reflexão que, algum momento, vai se colocar na Câmara e no Senado. Não cabe a mim tratar desse assunto, pois é de outras competências. Mas, aparentemente, vai se construindo um caminho em que ele [Bolsonaro] vai, cada vez mais, governando para poucos, de modo agressivo. Sem dúvida, é um debate que, infelizmente, vai se colocando por conta desse conjunto de atitudes e declarações. (…)
O Imparcial: O senhor mencionou uma possível denúncia à Procuradoria Geral da República por racismo. Vai em frente?
Flávio Dino: Nós [os governadores do Nordeste] solicitamos e estamos esperando explicações da presidência da República. Teremos uma reunião no dia 29, em Salvador, e provavelmente este tema estará na pauta. Eu não tomarei nenhuma atitude individual, porque acho que não me cabe, na medida em que, embora eu tenha merecido um “destaque” – de, na ótica dele, ser o pior governador -, eu sempre coloco na frente o que achei de mais grave, que foi o ataque à região e a todos os cidadãos e cidadãs dela; e o anúncio de uma determinação de perseguição contra um conjunto de governadores. Nós vamos aguardar o que ele dirá para decidir providências jurídicas que iremos tomar.
O Imparcial: Como o senhor vê ser considerado o pior governador no ponto de vista do Bolsonaro?
Flávio Dino: Olha, realmente, eu dormi bem a noite toda. Não embalou meu sono, pois não é uma opinião que altere a minha vida. Eu me preocupo muito com a opinião das pessoas, pois sou político e cidadão aberto a opiniões e sugestões, mas sobretudo à opinião do povo maranhense, que me elegeu e reelegeu. Então, não é a opinião isolada do presidente da República, movido por ódio e preconceito, que vai afetar minha atuação. Acredito nos valores democráticos e republicanos e não afasto um milímetro da minha atuação. Não tenho medo de cara feia, de grito, não tenho medo de nada disso. Não tenho medo de ditador, de subditador, de projeto de ditador. Então, vou manter a minha atitude sempre respeitosa, sempre no plano político e ideológico, como faço, nunca no plano pessoal, e pronto a colaborar com o Governo Federal naquilo que interessar ao meu estado. É meu dever defender o estado para que o Governo Federal respeite o Maranhão e respeite o Nordeste. (…)