Afilhada política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente Dilma Vana Rousseff, 67 anos, tende agora – reeleita – a se descolar do padrinho, segundo avaliação de dois políticos gaúchos que a acompanham desde quando ela exerceu o primeiro cargo público, nos anos 1980, como secretária da Fazenda da Prefeitura de Porto Alegre.
Ex-militante de esquerda nos anos 1970, presa e torturada pelo regime militar (1964-1985), Dilma teve Lula como principal fiador político de suas duas vitórias eleitorais. Ao longo dos oito anos em que ele governou o país (2003-2010), Dilma comandou o Ministério de Minas e Energia e o da Casa Civil.
Ex-prefeitos da capital gaúcha e ex-governadores do Rio Grande do Sul, Alceu Collares (PDT) e Olívio Dutra (PT) foram chefes da presidente reeleita em uma época em que ela sequer cogitava governar o país. Collares trabalhou com Dilma na prefeitura e no governo estadual. Dutra, no governo estadual.
Na visão de Collares, um dos fundadores do PDT, Lula teve a “sensibilidade” de identificar o potencial político da petista no momento em que o ex-ministro José Dirceu se inviabilizou para disputar a Presidência em razão do escândalo do mensalão do PT.
O ex-governador gaúcho, entretanto, acredita que apesar de Lula ter sido crucial para a primeira vitória de Dilma nas urnas, o peso da influência política do ex-presidente foi menor na eleição deste ano. Por isso, ele prevê sua ex-secretária da Fazenda e de Minas e Energia conquistará a independência política nos próximos quatro anos.
“Lula, pela sua sensibilidade, viu que ela [Dilma] tinha as condições de ser presidente. A era política que vem por aí não é do [Leonel] Brizola, do Getúlio [Vargas] ou do Lula. O que vem por aí obrigará os partidos a girarem em nome de ideias e propostas, e não em torno de pessoas. Dilma, ela vai ser 1 milhão de vezes melhor no segundo mandato”, opinou Collares.
Para o petista Olívio Dutra, que teve Dilma como subordinada no governo gaúcho e foi ministro junto com ela na gestão Lula, a presidente reeleita “sempre teve a identidade afirmada”.
“Ele [Lula], pelo meu entendimento, nunca teve a postura de colocar Dilma debaixo do braço. Ela sempre teve a identidade afirmada. Fazemos parte de um projeto que não é personalista, é coletivo”, destacou Olívio.
Primeiro mandato Filha de um imigrante búlgaro e de uma professora mineira, Dilma disputou neste domingo (26) sua segunda eleição. Na primeira vez em que concorreu a um cargo eletivo, em 2010, ela foi eleita presidente com 55,7 milhões de votos.
Em seus primeiros quatro anos de governo, a presidente reeleita deu continuidade às principais bandeiras políticas de Lula, como Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida e o Prouni. Ela, no entanto, também tentou imprimir sua própria marca política com a criação, entre outras iniciativas, do programa Mais Médicos e do Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino e Técnico e Emprego), que concede bolsas de estudos para estudantes de cursos profissionalizantes.
O primeiro ano de mandato foi de instabilidade, com escândalos que levaram à demissão de seis ministros: Antônio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes), Wagner Rossi (Agricultura), Orlando Silva (Esporte), Carlos Lupi (Trabalho) e Pedro Novais (Turismo).
A crise política, entretanto, em vez de desgastar a petista, turbinou os índices de popularidade dela. A então “mãe do PAC” ganhou fama de gestora austera ao cortar de seu primeiro escalão os auxiliares suspeitos de envolvimento em irregularidades, entre os quais presidentes nacionais de partidos que integram a base governista. A chamada “faxina ministerial”, que degolou em poucos meses 15% dos ministros do governo Dilma, se estendeu ao segundo ano de mandato – o então ministro das Cidades, Mário Negromonte, foi afastado do cargo após ser alvo de uma série de denúncias de irregularidades.
Em meio ao seu primeiro mandato, a presidente teve de lidar ainda, durante quase cinco meses, com o desgaste resultante da condenação de ex-integrantes da cúpula do PT no julgamento do processo do mensalão do partido no Supremo Tribunal Federal (STF).
Outro momento delicado da primeira fase do governo Dilma ocorreu em junho de 2013, quando milhares de pessoas foram às ruas do país reivindicar melhoria dos serviços públicos. Mesmo não sendo o foco principal das reivindicações populares, a petista viu a popularidade cair em meio à onda de protestos. Na tentativa de tentar se reabilitar politicamente, ela apresentou uma série de propostas ao país, entre as quais a convocação de uma constituinte exclusiva para promover uma reforma política. A ideia, contudo, sofreu resistência no Congresso Nacional e acabou engavetada. (G1)