Artur Ferraz e Andressa Carolina/Folha de Pernambuco
Tristeza, alegria, angústia, euforia. As emoções são tão numerosas quanto diferentes entre si. E, variando de intensidade conforme os obstáculos que a vida impõe, elas se revelam, muitas vezes, difíceis de controlar.
Isso pode acontecer com todo mundo. Mas, para algumas pessoas, essas oscilações nos sentimentos são tão acentuadas que alteram o comportamento e prejudicam a saúde. Por trás delas, é possível que esteja o transtorno bipolar.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, a bipolaridade atingia 140 milhões de pessoas no mundo. E embora afete tanta gente, ela é, assim como outros problemas psíquicos, pouco compreendida.
Por isso, se comemora, nessa terça-feira (30), o Dia Mundial do Transtorno Bipolar, que, ao jogar luz sobre o tema, busca combater estigmas e alertar para a necessidade de se cuidar do bem-estar mental.
Em muitos casos, a bipolaridade é difícil de diagnosticar porque se confunde com a própria depressão. E, de fato, ambos os transtornos são parecidos. A diferença é que, no bipolar, os episódios de depressão se alternam com os momentos de mania ou hipomania, caracterizados por uma agitação e uma autoestima exacerbadas (veja no infográfico abaixo).
Esses “estados de humor” completamente divergentes, sendo um o extremo contrário do outro, constituem os dois polos do transtorno bipolar.
“Só conseguimos fechar o diagnóstico quando o paciente apresenta algum quadro de mania ou hipomania”, diz o psiquiatra Amaury Cantilino, presidente da Sociedade Pernambucana de Psiquiatria. “Com frequência, antes que isso aconteça, ele pode ter dois, três ou até mais episódios depressivos. Assim, recebe o diagnóstico de depressão quando, na verdade, tem transtorno bipolar. Até que se descubra, o tratamento não será o mais adequado”.
Foi o que aconteceu com Mariana Capiberibe, 45 anos. A primeira crise que teve foi de depressão, aos 19, já no fim da adolescência, período em que, em geral, o transtorno começa a se manifestar. Para ela, a maior dificuldade era se levantar da cama de manhã.
“No meu caso, era como se faltasse motivação para viver. Tinha dias em que eu não queria sair nem fazer coisas novas. E esse período, comigo, durava por volta de dois meses”, conta. Por conta desses baixos, passou a tomar antidepressivos.
Somente de dez anos para cá, Mariana percebeu que também tinha episódios muito intensos de euforia. “Era como se eu fosse a Mulher-Maravilha. Tinha vontade de estar na rua ou produzindo mais. Eu pegava minha agenda e marcava mais coisas do que conseguia fazer”, descreve.
Formada em Letras, a educadora trabalha no setor administrativo da Associação dos Amigos dos Pacientes de Pânico em Recife (Ampare-PE), organização fundada em 2001 pelo médico Wilson Oliveira com um grupo de pacientes, entre eles, a mãe dela, Socorro, para ajudar pessoas com transtornos mentais.
A partir da descoberta da bipolaridade, a medicação foi trocada e, desde então, toma estabilizadores de humor, que ajudam a controlar as oscilações e a intensidade das crises. Outro ponto que ela considera fundamental para o tratamento é a terapia.
Mariana Capiberibe tem bipolaridade e trabalha em associação que ajuda pessoas com transtornos mentais (Foto: Cortesia)
Como destaca a psicóloga clínica Silvia Lasalvia, o transtorno bipolar não tem cura, mas pode ser controlado. Para isso, além da medicação e do acompanhamento com um profissional da psicologia, um estilo de vida saudável, sem consumo de álcool e outras substâncias psicoativas, é muito importante.
“Diferentemente de outras doenças, como a hipertensão e a diabetes, das quais se fala com naturalidade, as doenças mentais ainda reverberam em um campo estigmatizado. E isso impede as pessoas adoecidas de procurar ajuda”, lembra.