Hoje, 27 de agosto comemora-se oficialmente o Dia do Psicólogo. Essa carreira, que sempre foi muito importante, ganhou ainda mais protagonismo com a pandemia da Covid-19, trazendo a saúde mental para o centro das discussões.
O Dia do Psicólogo é uma oportunidade para discutir a importância da saúde mental e valorizar esse trabalho tão fundamental para indivíduos e sociedades.
Por isso, convidamos o Dr. José Ricardo Barbosa da Silva, 39 anos, especialista em Psicologia Organizacional e do Trabalho, ora se especializando em Terapia Cognitivo Comportamental, para dividir conosco seus desafios, emoções e percepções sobre o futuro dessa carreira.
Eis a entrevista:
DS – O que é Psicologia?
RB- Psicologia é uma ciência e uma profissão que estuda e trata o comportamento humano e seus processos mentais.
DS – Qual a origem da palavra Psicologia?
RB – A palavra Psicologia tem origem na palavra grega Psyche, que se refere à espírito ou alma, maia a palavra logos, que quer dizer “estudo”. Portanto, Psicologia quer dizer “estudo da alma, Alma e espirito aqui, dizem respeito àquilo que “anima” o humano.
DS – Por que o Dia do Psicólogo é comemorado no Brasil em 27 de agosto?
RB – Porque foi nesta data, no ano de 1964, que foi sancionada a lei 4.119/64 que regulariza a profissão no Brasil.
DS – Por que você escolheu se tornar psicólogo?
RB – Eu nunca tinha pensado em ser psicólogo. Aos 19 anos, cheguei a fazer um período do curso de Direito pela FACOL (hoje UNIFACOL), inclusive estudando com o autor deste blog. Em 2006, durante uma palestra que eu ministrava, uma colega psicóloga que estava me assistindo comentou que eu “tinha jeito pra psicologia”. A partir desse dia, comecei a pensar sobre essa possibilidade aqui hoje estou, já com mais de oito anos de formação.
DS – Qual foi o seu primeiro desafio como psicólogo?
RB – Meu primeiro desafio foi de assumir os trabalhos de Psicologia do Centro de Atendimento Educacional Especializado (CAEE) da Secretaria Municipal de João Alfredo em 2015, onde trabalhei por 06 anos. Desde a minha formação em 2014 já vinha fazendo atendimentos clínicos, mas o CAEE me trouxe grades desafios, pois teria que fazer acompanhamento psicológico com um público que até então não tinha trabalhado: crianças e adolescentes com dificuldades de aprendizagem, síndromes e transtornos dos mais variados.
DS – Qual é a sua avaliação sobre a importância desta profissão na atualidade?
RB – A psicologia sempre foi um campo importante para o contexto da vida humana, mas antes o acesso ao tratamento psicológico era para poucos, para quem tinha condições financeiras para tal. Hoje a psicologia está mais acessível, mais próxima da população. O SUS incorporou várias práticas relacionadas à Psicologia como promoção de saúde. Com isso, cada vez mais a população procura esses serviços, quebrando preconceitos e acessando uma melhor qualidade de vida com através do cuidado com a saúde mental.
DS – Cite um momento emocionante e desafiador como psicólogo.
RB – Sem sombra de dúvidas, a pandemia pela qual estamos passando é este momento.
DS – A pessoa procurar a ajuda de um psicólogo significa que ela esteja “enlouquecendo”?
RB – Pelo contrário. Como falei acima, os rótulos e preconceitos relacionados ao tratamento psicológico estão cada vez mais diminuindo e afirmações como a acima estão cada vez mais enfraquecendo. Hoje em dia vemos a Psicologia no SUS, nas escolas, nas organizações, nos serviços sociais. Inclusive, vemos as pessoas procurando acompanhamento psicológico de forma PREVENTIVA, ou seja, como forma de manutenção de bem estar e qualidade de vida, isso é muito bom.
DS – A que o senhor atribui a procura por psicólogos durante a Pandemia da Covid-19?
RB – Eu acredito que já havia muitos conflitos e conteúdos recalcados na população e a pandemia veio como um gatilho poderosíssimo, acionando uma onda de medo e estados ansiosos e depressivos nas pessoas. A Psicologia foi um ponto de apoio importantíssimos nesse momento.
DS – O que consiste a Terapia On-line?
RB – A Psicoterapia on-line nada mais é do que o acompanhamento psicológico de forma remota, virtual, através de ligação direta, mensagem ou vídeo chamada. É combinado um horário e local que tenha privacidade. Já existia antes, mas foi com os impedimentos de aproximação social que a pandemia trouxe que essa modalidade de atendimento explodiu. Hoje eu atendo on-line pessoas espalhadas por alguns estados do Brasil. Também já atendi pessoas de fora do País. É uma ferramenta fantástica de alcance.
DS – É comum o paciente mentir quando não se sente confortável durante o tratamento?
RB – É comum em dois casos: no começo do acompanhamento ou quando não se estabelece uma boa relação terapêutica entre profissional e paciente.
DS – É possível o psicólogo fazer auto terapia?
RB – Eu não diria “auto terapia”. O que fazemos é acompanhamento psicológico. Também temos que cuidar da nossa saúde mental. Trabalhamos com muitas vidas, casos complexos que necessitam que estejamos bem cuidados para bem cuidar. Inclusive, é uma das primeiras recomendações dos professores quando começamos o curso: alunos, façam terapia.
DS – A que compete ao Psicólogo, ao Psiquiatra e ao Psicanalista?
RB – Psicólogo é uma pessoa que tem formação em Psicologia, oferta acompanhamento psicológico, faz avaliação psicológica, pode aplicar testes e assina documentos relacionados ao seu trabalho como psicólogo (como laudos, por exemplo) O psiquiatra é uma pessoa formada em medicina com especialização em Psiquiatria. Não faz acompanhamento psicológico, mas a ele é atribuído avaliar, diagnosticar e medicar o paciente. Já o psicanalista é uma pessoa formada em qualquer área de ensino superior que fez o curso de psicanálise (geralmente dois anos). Ele faz o que se chama de análise (tratamento de saúde mental baseado na teoria psicanalítica). A ele não é atribuído medicar nem emitir documentos do campo da psicologia.
DS – A sua atuação está restrita aos consultórios?
RB – Não. Como falei, a psicologia se encontra em vários contextos, tais como o clínico, o social, o organizacional, o escolar e o jurídico.
DS – Os seus amigos ou familiares sentem-se acanhados em procurar os seus serviços?
RB – Há uma orientação, por parte de muitos professores, que diz que atender pessoas muito próximas ou conhecidas atrapalharia o processo de tratamento, mas não há estudos que comprovem isso. Em uma cidade pequena como a que moramos, fica até difícil atender alguém que não conhecemos. Por causa dessa orientação, muito psicólogos (as) saem de suas cidades para atender fora. Eu atendo na minha cidade, atendo pessoas conhecidas, já atendi alguns amigos e amigas e o processo deu super certo. Só não atendo familiares.
DS – E para a criança, existe tratamento especial? Existe “psicólogo para criança” e “psicólogo para adulto”?
RB – O psicólogo, ao sair da formação, sai como psicólogo generalista, ou seja, apto a atender qualquer público. Mas, como em toda profissão, é importante dar mais foco naquilo que se quer seguir. Eu atendi muitas crianças e adolescentes no CAEE, mas tive que me debruçar nos livros, já que não daria tempo de fazer uma especialização em terapia infantil. Mas, respondendo a pergunta, existe especialização em psicoterapia infantil, e é um nicho muito promissor a quem se interessa.