Dez anos depois de renunciar à presidência da Câmara para escapar da cassação no episódio apelidado de “mensalinho”, o ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) afirmou em entrevista por telefone ao G1 que a atual crise política do Brasil é a “pior possível” e sentencia: “O país está naufragando”.
“Não podia existir coisa pior do que está acontecendo. A posição da presidente Dilma Rousseffnão é segura, não se pode confiar que vai ela vá encontrar solução. O país está naufragando”, diz.
Severino renunciou em 21 de setembro de 2005 como desdobramento da denúncia de que cobrava propina de R$ 10 mil por mês do dono de um dos restaurantes da Câmara (veja o vídeo acima). Ele resolveu deixar o comando da Casa e o mandato parlamentar para evitar um processo por quebra de decoro, que poderia levar à cassação.
Aos 84 anos e sem cargo público, ele recomenda que o atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), adote atitude diferente da dele e não renuncie em razão da acusação de envolvimento com o esquema de corrupção da Petrobras investigado pela Operação Lava Jato. Para Severino, o peemedebista deve enfrentar as acusações sem deixar o posto.
“Ele tem que continuar na presidência porque ainda não tem uma denúncia fundada contra ele. Eu acho que até agora não tem nada provado contra ele. E acho que o presidente da Câmara tem tomado posições boas. Ele ter derrotado o pessoal do PT foi uma coisa extraordinária. Ele derrotou o PT, que fez as maiores roubalheiras do país”, afirmou o ex-deputado do PP.
Depois de deixar a Câmara, em 2005, Severino Cavalcanti tentou voltar como deputado no ano seguinte, mas não conseguiu votos suficientes.
Em 2008, se elegeu prefeito na cidade natal, João Alfredo, no agreste pernambucano. Tentou a reeleição, mas teve a candidatura impugnada pela Justiça Eleitoral com base na Lei da Ficha Limpa, pelo fato de ter renunciado para evitar a cassação.
Afastado de cargos políticos desde então, ele se diz um “homem feliz”, fala que se “diverte” em fazer política e informa que poderá ser novamente candidato à Prefeitura de João Alfredo em 2016. Atualmente, vive em Recife.
Leia os principais trechos da sua entrevista:
G1 – Qual é a análise que o sr. faz da crise política atual?
Severino Cavalcanti – A crise é a pior possível. Não podia existir coisa pior do que está acontecendo. A posição da presidente Dilma não é segura, não se pode confiar que vai encontrar solução. O país está naufragando.
G1 – Como o sr. vê a relação entre Executivo e Legislativo depois que Eduardo Cunha passou oficialmente para a oposição e o efeito disso para a governabilidade?
Severino Cavalcanti – A governabilidade está muito difícil. Não está havendo entrosamento perfeito entre um e outro. O que tem que haver é uma solução para o destino do país. O país não pode continuar acéfalo como está. Ninguém sabe com quem precisa falar.
O ex-presidente da Câmara, Severino Cavalcanti,
em imagem de 2012 (Foto: Reprodução / TV Globo)
G1 – Como avalia a decisão do presidente Eduardo Cunha de romper com o Planalto?
Severino Cavalcanti – É o seguinte: ele está procurando fazer as coisas, mas ele só está pensando nele. Não está pensando no país. Ele precisa tomar uma posição para melhorar a situação do país. Não sei até que ponto ele vai manter isso.
G1 – Eduardo Cunha foi denunciado pelo Supremo por suspeita de envolvimento na Operação Lava Jato. O senhor acha que ele deve continuar no comando da Câmara?
Severino Cavalcanti – Às vezes, a denúncia não tem procedência. Ele tem que continuar na presidência porque ainda não tem uma denúncia fundada contra ele. Eu acho que, até agora não tem nada provado contra ele. E acho que o presidente da Câmara tem tomado posições boas.
G1 – A que posições boas o senhor se refere?
Severino Cavalcanti – Ele ter derrotado o pessoal do PT foi uma coisa extraordinária. Ele derrotou o PT, que fez as maiores roubalheiras do país.
G1 – Mas o senhor renunciou quando surgiram as denúncias do ‘mensalinho’. Por que agora recomenda a permanência de Eduardo Cunha?
Severino Cavalcanti – É que eu queria ser prefeito de João Alfredo. E os deputados, os meus adversários, queriam tomar conta do poder. E eu não deixava. Eu tive uma vitória muito grande lá. Eu fui eleito primeiro-secretário, vice-presidente. Nenhum deputado teve o status que eu tive.
G1 – Qual sua avaliação sobre a qualidade do Congresso Nacional de hoje, em comparação com a época em que comandava a Câmara?
Severino Cavalcanti – Há dez anos, não tinha essas denúncias que tem agora. O clima hoje não é bom.
G1 – Quando olha para trás, o senhor acha que tomou a decisão certa ao ter se afastado da presidência da Câmara há dez anos?
Severino Cavalcanti – Ah, não tenho dúvida nenhuma. Porque eu não tive participação nenhuma [em corrupção]. Mas havia uma pressão grande [pela minha renúncia]. Eu não estava seguindo a orientação que eles queriam na Câmara.
G1 – Como é sua vida hoje? Pretende voltar a disputar eleições?
Severino Cavalcanti – Eu continuo como presidente de honra do PP. Toda ação pública que posso fazer, eu faço. Tenho diversão com a política. Eu tenho uma responsabilidade no meu município, que é João Alfredo. Eu sou um homem feliz. Não tenho problema na minha vida. Eu tenho opções, mas tenho responsabilidade. Se eu for me candidatar, vai ser a prefeito de João Alfredo. (G1)