Blog do Kennedy
O destino da “Folha de S.Paulo” é de interesse público e jornalístico. Por isso, é importante acompanhar os desdobramentos da disputa societária que está em curso entre Maria Cristina e Luís Frias. Há duas visões em jogo. Uma prioriza a equação financeira e deixa a liberdade editorial em segundo plano, condicionada aos interesses estratégicos da primeira. A outra coloca no topo a liberdade editorial, ciente de que a viabilidade financeira é fundamental para manter a independência, mas não para guiar as decisões sobre todas as notícias que merecem ser publicadas.
Em 18 anos de trabalho na Folha, ouvi um mantra de Octavio Frias de Oliveira ser replicado pelo seu filho Otavio, o de que um jornal no vermelho perde a sua independência editorial. Otavio era adepto da segunda visão hoje em disputa na Folha. Priorizava o editorial, mas levava em conta a sustentabilidade econômica.
Com ele no leme, o jornal atravessou momentos difíceis nessa tormenta de quase duas décadas a respeito do modelo de negócios da imprensa tradicional, enfraquecido pela expansão da internet. Jornalismo de qualidade custa caro e demanda investimentos. Não pode ser uma operação meramente econômica.
Toda uma geração de jornalistas formada na “escola Folha” deve acompanhar com atenção os desdobramentos dessa disputa societária e torcer para que o legado do seu Frias e do Otavio seja assegurado, mantendo o jornal forte, inquieto, plural e combativo.
Veículos de imprensa realmente independentes são elementos que compõem o oxigênio da democracia. A imprensa livre é uma das engrenagens do melhor sistema de freios e contrapesos de uma sociedade civilizada. No atual momento político do Brasil, o destino da Folha importa muito. Ele se confunde com o interesse público.