O Globo – Por Jailton de Carvalho
O secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, cotado para assumir o comando da Polícia Federal, caso se confirme a demissão do atual chefe da instituição Maurício Valeixo, se reuniu nesta segunda-feira com o secretário-geral da Presidência, Jorge Oliveira. Torres estava à frente de um grupo de delegados da Polícia Civil no encontro com o ministro, no Palácio do Planalto.
No sábado, Torres acompanhou o desfile do Sete de Setembro, no palanque de autoridades, próximo ao presidente Jair Bolsonaro. As imagens foram registradas por policiais e correram grupos de Whatsapp de delegados em meios a discussões sobre a ameaça de Bolsonaro de trocar o comando da PF à revelia do ministro da Justiça, Sergio Moro. Depois das declarações de Bolsonaro, delegados dão como certa a saída de Valeixo.
Segundo interlocutores de Oliveira, não houve “convite oficial” a Torres. O assunto só deve ser tratado depois do retorno de Bolsonaro ao trabalho. O presidente foi submetido no domingo a uma nova cirurgia e só deve receber alta nos próximos dias.
Próximo ao senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e Oliveira, Torres desponta como o favorito chefiar a instituição. Em entrevista ao GLOBO no último dia 30, Oliveira confirmou que o nome de Torres foi indicado para substituir Valeixo e elogiou o delegado. Os dois são amigos deste os tempos em que trabalhavam na Câmara.
Torres foi chefe de gabinete do então deputado federal Delegado Franschini (PSL-PR). Oliveira ocupava o mesmo posto no gabinete do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
– (Torres) é uma pessoa que, se fosse diretor-geral, seria muito bom. Pela postura, pela capacidade. Sei que é uma pessoa extremamente séria, íntegra, está fazendo um excelente trabalho no governo do Distrito Federal — disse Oliveira.
Em movimento oposto ao de Torres, Valeixo decidiu sair de cena. O atual diretor tirou férias de dez dias. A ausência temporária do diretor-geral faria parte de uma estratégia acertada com o ministro Sergio Moro. A expectativa do ministro, segundo interlocutores, seria ganhar tempo. A intenção é ver se Bolsonaro se contenta com a substituição do superintendente da PF no Rio de Janeiro e desiste de mudar também o comando da PF.
A crise começou quando Bolsonaro, em sucessivas entrevistas coletivas, falou sobre o afastamento do delegado Ricardo Saadi da Superintendência da PF no Rio e, depois, num tom mais elevado, sobre a troca do diretor-geral da instituição. Bolsonaro indicou o delegado Alexandre Saraiva, da superintendente no Amazonas, para comandar a PF no Rio. Mas a vaga já estava acertada com com o delegado Carlos Henrique Oliveira.
Bolsonaro, então, disse que, se não pode indicar o superintendente do Rio, trocaria o diretor-geral. E faria isso mesmo independentemente da vontade de Moro porque, como presidente da República, cabe a ele, não ao ministro da Justiça, a escolha do diretor-geral. Na lista de cotados para eventual substituição de Valeixo está também o diretor da Agência Brasileira de Inteligência, Alexandre Ramagem.