O cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado da Santa Sé, cargo equivalente a um “primeiro-ministro” do Vaticano, afirmou que a Europa deve “se redescobrir”, em entrevista ao jornal italiano Eco di Bergamo.
Ele é considerado um dos mais fortes candidatos para a sucessão do papa Francisco, de 88 anos.
Principal articulador da diplomacia do Vaticano e figura mais influente da igreja depois do papa, Parolin alertou que a recusa em reconhecer as raízes cristãs no projeto europeu enfraqueceu a identidade do continente.
Na Constituição Europeia, foi evitada uma referência explícita ao cristianismo, optando por um conceito genérico de “patrimônio cultural, humanista e religioso”. Para Parolin, essa escolha comprometeu a construção de um senso de unidade e identidade.
“Em vez de construir a Europa sobre bases e raízes profundas, preferiu-se um consenso mutável de valores”, criticou. “Mas o futuro só pode ser construído sobre o passado.”
O cardeal apontou que essa crise se manifesta de várias formas, incluindo o “ateísmo prático, o populismo e o analfabetismo religioso”. No entanto, ele destacou “fenômenos encorajadores”, como o aumento dos pedidos de batismo entre os jovens franceses.
A seu ver, a Europa enfrenta uma “crise de ideias” que a impede de definir um caminho para o futuro. “A Europa tem atualmente bons anticorpos para resistir a crises e desafios. Mas o problema mais sério é a falta de ideias voltadas para o futuro que nos permitam responder de forma decisiva aos concorrentes internacionais”, disse.
Essa fraqueza, segundo Parolin, deriva da relação conflituosa da Europa com sua própria história. “Há um medo profundo, e parcialmente justificado, de seu passado”, afirmou. Mesmo assim, ele enfatizou que, além dos momentos sombrios, “há muitos momentos brilhantes”.
Parolin também abordou a guerra entre Israel e o Hamas, dizendo esperar que o cessar-fogo em Gaza seja “permanente e ponha fim ao sofrimento do povo palestino”. Ele afirmou que é necessário oferecer “sinais de esperança” tanto a israelenses quanto a palestinos.
Sobre a Síria, defendeu um caminho de “inclusão e convivência harmoniosa”. Já em relação à guerra na Ucrânia, que completará três anos, alertou contra soluções impostas unilateralmente. “Nunca se deve buscar soluções por meio de imposições unilaterais”, disse, pois isso “significaria pisar nos direitos de povos inteiros” e impediria uma paz “justa e duradoura”.
O próximo papa?
O cardeal Pietro Parolin, “primeiro-ministro” do Vaticano e braço direito do papa Francisco, é frequentemente citado como um forte candidato a ser o próximo pontífice.
Sua experiência diplomática e seu perfil moderado fazem dele um candidato natural, especialmente para os cardeais que desejam continuidade no atual pontificado.
Sua candidatura também enfrenta dificuldades. O acordo que negociou entre o Vaticano e a China gerou críticas, e sua gestão na Secretaria de Estado esteve envolvida em escândalos financeiros, ainda que não diretamente.
Além disso, cresce a expectativa de que o próximo papa venha de fora da Europa, o que pode enfraquecer suas chances. As informações são d’O Anagonista.