Era apenas o texto do convite de formatura da graduação de Direito, mas Lucas Lima Jansen, 23 anos, resolveu brincar, e a brincadeira viralizou. Ao contrário do que os formandos comumente fazem – rememorar o aprendizado, agradecer aos pais, a colegas e a professores – Lucas narrou ironicamente a realidade de muitos graduandos, principalmente aqueles que estudam e trabalham ao mesmo tempo. Terminou o texto “solene” dizendo: “como diria um filósofo contemporâneo cujo nome eu não me lembro, ‘não estudo para ser chamado de doutor, estudo para ser chamado de rico’”. Muita gente se identificou.
“Comecei a cursar Direito, mas depois não curti muito o curso e resolvi fazer vestibular pra Publicidade na UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e passei. Aí segui a vida com dois cursos”, conta Lucas em conversa com o Portal FolhaPE. Conciliar as duas faculdades deixou conturbada a rotina do estudante: treino de natação, aulas na UFPE, estágio e, à noite, aulas do curso de Direito em uma faculdade particular do Recife. “Era uma loucura. Pior mesmo foi semestre passado, que eu tava estudando pra OAB (a prova da Ordem dos Advogados do Brasil, requisito para se tornar advogado). Passei por conta de uma graça divina”, conta Lucas.
Lucas conta que a comissão de formatura da turma enviou os convites por e-mail para que os colegas checassem se estava tudo correto. “Aí alguém colocou no grupo da sala e a resenha começou. Na verdade, eu amei minha faculdade. O texto é, na verdade, uma caricatura da vida universitária e fiz mais pra brincar mesmo”, confessa, divertindo-se com a repercussão que a brincadeira ganhou. “Do nada, muita gente começou a me adicionar nas redes sociais, pessoas de outros estados vieram dizer que riram demais, que o grupo do WhatsApp da faculdade só falava disso. Meus amigos começaram a mandar os prints e agora há pouco uns amigos meus de São Paulo mostraram a galera de lá falando sobre o convite também”.
Continua…
Quando viu a repercussão, o pai de Lucas não acreditou, mas achou graça da situação; a mãe se estressou um pouco, mas depois relevou. “Ela ficou arretada mesmo quando descolori o cabelo, porque o Sport ficou na série A”, brinca o, agora, advogado.
Leia o texto do convite:
“Passados seis fucking anos e acabou essa desgraça. A faculdade começou de uma maneira maravilhosa, estava empolgado com um novo ambiente, novos professores, novas amizades. Pobre iludido era eu. Foram-se os anos e eu já estava surtando com assuntos acumulados, vários trabalhos para entregar, provas cujo único objetivo era foder com a minha vida social e desgastar meus neurônios, sem falar na demora de colocar a nota no sistema, né? Jesus, eu já não estava mais aguentando, pisar na faculdade no fim do curso era um tormento, eu olhava a cara dos professores e lia em suas testas “atura ou surta”, meus colegas me davam raiva (principalmente aqueles que ao fazer uma pergunta na aula dão uma palestra. Nunca seja esse tipo de pessoa!), todos os dias eu olhava para aquele lugar e dizia: não dá mais. E para completar, no último ano, ainda tive que estudar para a maldita prova da OAB e entregar um TCC. Aos meus inimigos, gostaria de dizer que acabou, estou formado e pronto para meter o famoso processinho. E como diria um filósofo contemporâneo cujo nome eu não me lembro, “não estudo para ser chamado de doutor, estudo para ser chamado de rico”.