Por Thalis Araújo/Folha de Pernambuco – Uma reação emocional que pode ser importante e até mesmo funcional para o organismo, a ponto de ser responsável pela adaptação em casos desconhecidos, a ansiedade pode ser considerada como “normal” quando se apresenta como um sinal de alarme, ante o perigo ou ameaça real, produzindo um fator evolutivo de proteção ao indivíduo.
Porém, quando essa inquietação se apresenta exacerbadamente, seja por causa de comportamentos ou experiências da vida, constitui-se como patologia e pode trazer os mais diversos tipos de sentimentos como aflição, angústia e perturbação de espírito causada por incertezas ou medo. Dito isto, é importante que o paciente se atente para o tratamento dessa condição que, ao invés de um método de defesa, torna-se um transtorno, que, por mais severo que seja, há opções que podem indicar uma ‘luz no fim do túnel’.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil ocupa o lugar de “Pais mais ansioso do mundo”, com mais de 18 milhões de pessoas que sofrem com a ansiedade patológica. A quantidade é referente a 9,8% da população nacional. É uma realidade que reforça a importância do aprofundamento no assunto, a fim de reconhecer e detectar os sintomas do mal e procurar ajuda profissional, através de métodos que podem controlar, reduzir ou curar de uma vez por todas o transtorno.
Tipos
Existem várias manifestações de ansiedade, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. No transtorno de ansiedade de separação, o indivíduo é apreensivo ou ansioso quanto à separação de figuras de apego, até um ponto em que se torna impróprio para o nível de desenvolvimento.
Outra forma é o mutismo seletivo, caracterizado por fracasso consistente para se comunicar em situações sociais, nas quais existe expectativa para que se fale, mesmo que o indivíduo se expresse em outras situações.
Já o transtorno de ansiedade social, a pessoa se torna temerosa, ansiosa ou se exime de interações e situações sociais que envolvem a possibilidade de ser avaliada.
Outro aspecto, muito comum na atualidade, é o transtorno do pânico. Nele, o paciente experimenta ataques de pânico inesperados recorrentes e está persistentemente com a possibilidade de sofrer novas crises ou alterações desadaptativas ao comportamento,que trazem sensação de falta de ar e taquicardia.
A agorafobia, por sua vez, torna os indivíduos apreensivos e ansiosos acerca de duas ou mais das seguintes situações: usar transporte público; estar em espaços abertos; estar em lugares fechados; ficar em uma fila ou estar no meio de uma multidão. Pode ocorrer até quando a pessoa, sozinha, está fora de casa.
Alguns dos sintomas desses transtornos são: palpitações; dores no peito e/ou musculares; dores de cabeça; aumento da pressão arterial; sudorese excessiva; tremores; náuseas; taquicardia e falta de ar.
Técnicas de controle
Segundo a doutora em psicologia clínica pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Catarina Dias, a ansiedade pode ser controlada, possibilitando a chance de voltar a ser uma reação normal. Mas, para que isso seja possível, o paciente precisa buscar auxílio em terapias, para aprender sobre técnicas de respiração, relaxamento muscular e identificação de situações de gatilhos.
A especialista também indica uma prática que faz com que a pessoa se concentre única e exclusivamente no tempo presente: a meditação.
De acordo com o Ministério da Saúde, esse método é utilizado como terapia clínica com pessoas que, além da ansiedade, sofrem com depressão, esquizofrenia, compulsão alimentar, dores crônicas e até mesmo com usuários de drogas. Vale ressaltar que não se trata de uma substituição de auxílios convencionais, mas sim do complemento aos demais tipos de tratamentos.
“Essa técnica (meditação) permite que estejamos conectados ao nosso presente, em atenção plena. E, quando necessário, também é importante procurar um psiquiatra que ajude a diagnosticar alguma comorbidade e até mesmo fazer ajustes na disfunção de neurotransmissores”, explica.
Dias também recomenda uma alimentação saudável. Ela defende que a ingestão de comidas balanceadas e ricas em nutrientes faz com que esses alimentos forneçam aos neurônios princípios nutritivos. É quando acontece produção dos neurotransmissores responsáveis pela atividade mental e emocional do paciente, podendo atuar significativamente na melhora do quadro de ansiedade.
“A pessoa precisa se alimentar bem para que esses nutrientes ajudem a regular o sono, a disposição e a digestão. Quando não nos alimentamos bem, os sintomas de ‘fome’ ou de mal alimentação podem ser confundidos com os da ansiedade desagradável”, complementa Catarina Dias.
Cultura errada
O psicólogo clínico Filipe Pedro acredita que a cultura de resistir a uma ajuda profissional ainda é muito fomentada no Brasil. Ele aborda que a população tem preconceito com tudo que é relacionado à saúde mental, o que impulsiona as pessoas a dizerem que não têm a “mente fraca”, o que só gera ainda mais casos de pacientes que precisam de ajuda, mas sem buscar a resolução concreta.
“Muitos casos precisam de remédios, mas nem todos. E nesse caso [das crises de ansiedade], não geram a cura. Eles têm função de reduzir os sintomas e proporcionar mais qualidade de vida. Porém, é preciso ir além e buscar a cura. Uma alimentação saudável, sono de qualidade e atividade física são, com certeza, ferramentas fundamentais no combate. Além disso, a busca de ajuda profissional pode ser um divisor de águas. Nem todo mundo precisa de terapia, mas terapia é capaz de ajudar todo mundo”, defende.