O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) promoveu, ontem, seis mudanças entre os seus ministros. A primeira saída do dia, de Ernesto Araújo, que pediu demissão da pasta das Relações Exteriores, já era dada como certa, diante do aprofundamento do seu desgaste com o Congresso, sobretudo, no Senado. Outras trocas, no entanto, não estavam no radar, como a saída do general Fernando Azevedo e Silva do Ministério da Defesa, substituído pelo também general Braga Netto, que ocupava a Casa Civil.
“Não considero uma reforma, reforma é algo mais planejado. Bolsonaro optou por fazer isso por conta da saída de Ernesto Araújo, que o presidente não gostaria que ocorresse. Isso mostra enfraquecimento”, afirma o cientista político Antônio Lucena. Desagradado pela quase imposição da saída de Araújo pelo Congresso, Bolsonaro optou por colocar em prática as outras mudanças também como forma de controlar a narrativa, aponta a cientista política Priscila Lapa.
“A saída de Ernesto ficou completamente diluída em meio a uma mudança maior, com a tentativa de contemporizar o que Bolsonaro considera uma perda”. Ela enfatiza que “ninguém realiza mudanças em cenários de equilíbrio” e que Bolsonaro vem sofrendo pressões de diversas frentes, inclusive, com “as bases de apoio do governo estremecidas”.
Lucena frisa que o presidente mudou postos chaves em pastas que precisa ter controle. “Caso do Ministério da Justiça com o delegado da Polícia Federal Anderson Torres, que é um aceno aos policiais. Com André Mendonça retornando à AGU, que podia atuar em um eventual impeachment e com a deputada Flávia Arruda (PL-DF), aliada de Arthur Lira, na Secretaria de Governo, levando o centrão para dentro do Palácio do Planalto”, afirma. Para os cientistas políticos, a troca que mais chama a atenção é na Defesa.
“Fernando publicou uma nota dizendo que ‘preservou as Forças Armadas como instituições do Estado’ e, de fato, Bolsonaro gostaria de ter um apoio maior das Forças Armadas. Nas manifestações que ele acenou ao golpe ano passado, ele falava que tinha apoio, mas não houve respaldo. No dia do seu aniversário, este mês, ele falou do ‘meu exército’ e também não teve respaldo. Azevedo nunca chancelou movimentos de cooptação do Exército”, diz. Para Priscila, acende-se um alerta.
“Há a luz amarela da radicalização e a possibilidade de um desembarque mais estrutural dos militares. O receio é de que, se isso ocorrer, leve a um bolsonarismo mais radical”, enfatiza.