Alice de Souza – Diario de Pernambuco
Pare e pense. Onde estão os rins? Para que servem? Como cuidar deles? Se você consegue responder a essas perguntas sem pesquisa prévia, faz parte de uma minoria de pessoas. Desprezados frente a outros órgãos, os rins acabam esquecidos na lista de check-up e passam despercebidos na vida de muita gente por anos. O problema é que, quando eles costumam fazer um pedido de socorro, às vezes é tarde demais. Cerca de 10 milhões de brasileiros, 5% da população do país, têm doença renal crônica. Número que cresce em todo o mundo e motiva a campanha do Dia Mundial do Rim, celebrado na próxima quinta-feira (14), para alertar sobre a necessidade de prevenção.
Os rins têm várias funções, sendo a mais importante delas a de agir como filtros das impurezas do corpo. Quando eles não funcionam em perfeitas condições, o organismo tende a acumular essas substâncias. Em todo o mundo, uma em cada dez pessoas têm doença renal. No Brasil, 2,9 milhões de brasileiros têm apenas um terço da função renal dos indivíduos normais. A questão é a maioria das doenças renais são assintomáticas e os pacientes, por desconhecerem a importância do órgão, não costumam buscar informações ao longo da vida sobre o funcionamento dele. Em função disso, acabam chegando já em estágio crônico ao nefrologista, quando não é possível recuperar as funções do órgão e a solução é hemodiálise ou transplante.
“As doenças renais, em sua maioria, são silenciosas. Você não sabe que tem uma doença no rim até ele parar de funcionar. Só que você tem como avaliar se o rim está funcionando bem ou com alguma alteração. Para isso, a população precisa de conhecimento”, afirmou o presidente da Sociedade Pernambucana de Nefrologia, o nefrologista Marcelo Nonato. Isso não significa procurar um especialista agora, mas durante as consultas médicas anuais questionar sobre o rim ao médico e solicitar, por exemplo, a medição da creatinina (exame dosador da saúde do órgão). Esse é um conselho válido para todos, pois a doença renal não escolhe perfil, mas sobretudo para quem tem fatores de risco: diabetes, hipertensão e histórico familiar.
Os rins podem ser acometidos por dois tipos de doença. As primárias, aquelas geradas no próprio órgão, e as secundárias, decorrentes de males relacionados a outras partes do corpo. Hábitos de vida e consumo também podem acelerar o comprometimento deles, como o abuso de anti-inflamatórios e antibióticos e a ingesta de alimentos que favorecem alterações de taxas como a glicose e colesterol. Um rim normal consegue filtrar 100ml de sangue por minuto. Quando esse valor chega a 10ml por minuto, está instalada a doença renal crônica (DRC). É quando a pessoa pode até urinar normal, mas eliminará apenas a água e não as toxinas.
De 28% a 46% dos brasileiros com mais de 64 anos têm DRC. Essa é a situação mais crítica, que leva o paciente para as terapias renais substitutivas como a hemodiálise e o transplante renal. O primeiro deles impõe uma rotina de visita de pelo menos três vezes por semana ao hospital, para que o paciente fique quatro horas limpando o sangue por meio de uma máquina. Um total de 120 mil pessoas realizam hemodiálise no Brasil, número que cresceu mais de 100% nos últimos 10 anos. “Todos os anos, mais de 20 mil pacientes entram em hemodiálise. A taxa de mortalidade é de 15% ao ano. Cada paciente desse custa 50 mil por ano ao SUS. Juntos eles consomem 8% da verba do sistema”, detalhou o nefrologista Marcelo Notato.
De acordo com ele, situação que poderia ser evitada muitas vezes com ações simples ao longo da vida como manter hábitos de vida saudáveis, controlar o peso, praticar atividade física regular e evitar a automedicação. Assim como com a aquisição de informações e a participação mais ativa do paciente na busca pela saúde renal. Afinal, apenas beber água não garante um rim saudável.
Saiba mais
Entenda os rins
Os rins são órgãos localizados atrás do abdômen, ao lado da coluna vertebral. São órgãos vitais para o corpo humano, pois desempenham funções importantes para o organismo como a filtração do sangue.
Funções dos rins
– Filtrar o sangue, retirando as impurezas do organismo
– Equilibrar os elementos do sangue, eliminando os excessos
– Regular o equilíbrio ácido-básico do sangue, mantendo a acidez sanguínea adequada
– Produzir hormônios, ajudando a deixar o organismo saudável
– Controlar os líquidos corporais, concentrando ou diluindo a urina
– Controlar a pressão arterial
Entenda a taxa de filtração glomerular (TFG)
É o cálculo matemático usado pelos médicos para estimar a capacidade de filtração do sangue dos rins, a função mais importante desses órgãos. Indica a velocidade com que os rins conseguem executar a tarefa.
Na normalidade
100ml de sangue por minuto são filtrados pelos rins
Na presença de DRC
10ml de sangue por minuto são filtrados pelos rins
O que é doença renal crônica (DRC)
Ocorre quando o rim sofre algum agravo, provocando a perda definitiva das suas funções. É um processo que acontece de maneira lenta, gradual e progressiva. Nos estágios iniciais, a doença progride de maneira assintomática. A doença renal crônica não tem cura, mas tem tratamento.
10 milhões de brasileiros têm doença renal crônica (DRC) = cerca de 5% da população
2,9 milhões de brasileiros têm apenas um terço da função renal dos indivíduos normais
850 mil mortes por doença renal crônica são registradas no mundo anualmente
De 28% a 46% dos brasileiros com mais de 64 anos têm DRC
120 mil pessoas com DRC fazem hemodiálise = 100% a mais que há 10 anos
Sintomas das doenças renais
Sangue na urina
Urina espumosa
Edema
Hipertensão
Anemia
Cansaço e fraqueza
Coceira (prurido)
Perda de apetite, náuseas e vômitos
Dor nas costas e dor nos rins
Doenças que acometem os rins
Diabetes
Hipertensão
Doença renal policística
Glomerulonefrites
Lúpus e outras doenças autoimunes
Gota
Infecção urinária de repetição
Cálculo urinário de repetição
Doenças urológicas
Medicações que acometem os rins
Anti-inflamatórios
Destroem a função renal e diminuem a capacidade de filtração do sangue
Antibióticos
Alguns antibióticos são nefrotóxicos, ou seja, possuem substâncias com efeito nocivo ao rim
Contraste radiológico
O uso de contraste deve ser evitado a todo custo pelas pessoas com doenças renais
Fonte: Livro A escolha certa na doença renal crônica: um manual para pacientes e familiares, do nefrologista Marcelo Nonato