A bancada do Jornal Nacional não foi nem de longe para cima de Jair Bolsonaro com a mesma vontade com que tentou encurralar Ciro Gomes na véspera. Ainda assim, saiu chamuscada após seguidos momentos de constrangimento. No principal deles, ouviu o entrevistado repetir a surrada afirmação de que o fundador do grupo Globo, Roberto Marinho, apoiara o golpe de 1964 como “revolução”. O candidato já dissera isso em várias ocasiões – inclusive na Globonews, onde foi rebatido com nota – mas desta vez foi no principal noticiário da emissora, com seus 30 pontos de audiência.
A nota veio ao final do telejornal, referindo-se ao editorial em que a emissora reconheceu que esse apoio foi um erro, repetindo isso e exaltando a democracia. Mas a entrevista com a presidenciável do dia, que na véspera terminou numa espécie de empate sem mortos e feridos, acabou num 1 x 0 a favor do capitão-deputado.
Bolsonaro utilizou bem a estratégia do ataque como defesa. Já chegou comparando o cenário do JN a uma plataforma de tiro de artilharia. Intercalou em suas respostas referências à “pejotização” do trabalho dos jornalistas, disse que a Globo recebe bilhões em propaganda oficial, lembrou a Bonner que é separado, ”assim como ele”, e tentou até intrigar os dois âncoras, insinuando que Renata Vasconcellos, por ser mulher, ganharia menos que o colega.
Foi quando a sempre elegante apresentadora do JN rodou muito distintamente a baiana, partindo para cima e dizemdo ao entrevistado que seu salário não interessa a ele porque não é pago com recursos públicos – e também que jamais toleraria esse tipo de situação. Renata foi a revelação da noite.
Bolsonaro falou as atrocidades de sempre, como a de que a polícia tem mesmo é que sair atirando, que um pai não quer chegar em casa e encontrar seu filho de seis anos brincando de boneca, e que os militares do golpe de 1964 “foram eleitos na forma da lei”. Nada disso, porém, está fora de seu repertório, e o candidato nadou em sua própria praia.
Nada indica que Bolsonaro terá perdido votos em sua entrevista ao JN, até porque os 20% que o apóiam nas pesquisas parecem fazê-lo justamente em função dessas posições. Mais uma vez, foi perdida a chance de se mostrar o verdadeiro eu despreparado de Bolsonaro, o que acontece quando ele se vê obrigado a falar de saúde, educação e esses temas básicos de interesse da população.