FolhaPress
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) estuda tomar duas medidas que vão escalar a crise política de seu governo, evidenciada pela sua participação neste domingo (3) em um ato contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal.
A primeira é fazer uma nova nomeação do delegado Alexandre Ramagem para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal. A segunda, remover do Comando do Exército o general Edson Leal Pujol.
Amigo da família de Bolsonaro, cujos filhos estão sob investigações que ou são feitas, ou passam pela PF, Ramagem teve sua indicação barrada por decisão provisória do ministro do Supremo Alexandre de Moraes, na quinta (30).
Na sexta retrasada (24), o então ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) deixou o cargo acusando Bolsonaro de querer interferir politicamente na PF, retirando da chefia Maurício Valeixo. O que veio a seguir, a escolha de Ramagem, corroborou a visão de Moro -que depôs sobre o caso por quase nove horas no sábado, entregando informações sobre pressão de Bolsonaro.
Neste domingo, Bolsonaro voltou a acirrar sua retórica ao dizer que havia chegado “ao limite” para apoiadores em um ato que defendia o fechamento do Congresso e do Judiciário.
Segundo um auxiliar direto do presidente, ele avalia o que ministros palacianos classificaram de “chutar o pau da barraca”. Ou seja, tentar emplacar novamente Ramagem.
A questão é complexa. Ministros do Supremo cerraram fileira em torno de Moraes, mas nem todos concordam com sua decisão. Nessa visão, ele teria excedido suas atribuições e interferido em atos privativos de outro Poder.
Segundo os mesmos interlocutores que relatam a intenção do presidente, está em jogo também o temor do que virá por parte de Moro no seu embate com Bolsonaro.
Nos círculos governistas, há a certeza que o fato de o ex-juiz da Lava Jato ter sido ouvido por antigos auxiliares trará um caso pronto para ser encaminhado pelo ministro Celso de Mello (STF).
A denúncia por parte de uma titubeante Procuradoria-Geral da República poderia ser inevitável, nesta avaliação, acendendo o pavio de um processo de impeachment hoje represado na Câmara dos Deputados.
Mas uma afronta direta de Bolsonaro, se consumada, trará ares de crise constitucional. Ainda mais depois do fim de semana, quando o presidente se reuniu com a cúpula militar da ativa e do governo para, 24 horas depois, pregar que as Forças Armadas estavam “ao lado do povo”.
Aí entra a segunda conflagração em estudo pelo mandatário máximo. A retirada de Pujol do Exército tem sido comentada há algumas semanas, e ela foi discutida na reunião realizada no sábado entre o presidente e os três comandantes militares, além dos ministros fardados de sua gestão.
O motivo é sua resistência a aderir à campanha bolsonarista para minimizar a importância da pandemia da Covid-19. Enquanto Bolsonaro fazia seu famoso pronunciamento da “gripezinha”, Pujol falava em combater na “maior missão de nossa geração”.
A especulação é de que o presidente quer seu mais canino aliado entre os generais em cargos estratégicos do governo, Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), na cadeira de Pujol.
Procurado, Ramos negou veementemente a possibilidade. “Não sei de onde isso saiu. Não discutimos isso. Tem uns seis generais mais longevos do que eu na fila”, disse à Folha.
O general só entra no quesito longevidade para poder assumir a Força no ano que vem, o que pode jogar a questão para a frente. Não que isso tenha sido um problema no passado: Eduardo Villas Bôas não era o mais longevo ao ser escolhido comandante do Exército por Dilma Rousseff (PT) em 2015.
Não há como tal operação ser feita sem feridas. Pujol não é exatamente um chefe popular entre suas tropas, e o baixo oficialato é bem mais entusiasta do bolsonarismo do que os estratos superiores. Mas daí a colocar alguém visto como seu aliado no comando da ativa da principal Força, há uma distância.
Tal movimento tenderá a ser malvisto na Marinha e na Força Aérea também. Forças menos próximas do “ethos” bolsonarista, com menos espaço no governo também, elas tenderiam a ler o movimento como um aviso sobre comportamentos futuros.
Restará saber se Bolsonaro, que já disse no passado a dois ministros do Supremo que duvida terminar o mandato, estará no cargo.