Os aliados de Jair Bolsonaro cozinham a criação de um partido. O catadão deve ter adeptos das bancadas do boi, da Bíblia e da bala (BBB), que na média têm 46% das cadeiras da Câmara.
Parece muito. Quase três de cada quatro deputados federais pertencem a pelo menos um desses grupos, que incluem parlamentares até do PT, no entanto. Quanta bala pode ter Bolsonaro, então? A migração pode ser grande, em caso de vitória do capitão da extrema direita.
Quando o então ainda vermelho-rosa Lula da Silva venceu a eleição de 2002, houve uma debandada de parlamentares de partidos que eram a base de Fernando Henrique Cardoso. A maioria migrou para equivalentes do centrão ou centroides, que negociavam apoio ao PT no poder. O PFL, hoje DEM, foi amputado, por exemplo.
Difícil imaginar que o adesismo fosse menor em caso de vitória de Bolsonaro —ao contrário, neste país muito mais direitista. Convém lembrar que o sucesso do ex-presidente da Câmara e agora presidiário Eduardo Cunha se devia ao apoio do BBBismo. Esse é o núcleo e o osso duro de roer do centrismo bebebista.
Um teste de fidelidade ao conservadorismo dos deputados pode ser sua filiação simultânea aos três Bs: boi, Bíblia e bala. Isto é, às frentes parlamentares da Agropecuária, Evangélica e de Segurança Pública. Os triplos B são 55 de 513 parlamentares. Deputados filiados tanto às frentes do boi e da Bíblia são 83.
O grosso desses políticos é do MDB e dos partidos da coligação de Geraldo Alckmin (PSDB), cada vez mais bolsonarizada de corpo e alma.
O partido com maior identificação com a bancada do boi é o MDB (74% de seus deputados). A seguir, dos partidos maiores, vem o pessoal do DEM, do PTB e do PP, na coalizão de Alckmin (mais de 50% dos deputados).
Na bancada da Bíblia, o líder é o partido evangélico, claro, PRB (71%), seguido curiosamente pelo pessoal do PSB (57%) e pelo bloco do PP (50%), descendente do partido de base da ditadura militar. Os partidos com mais deputados filiados à bancada da bala vêm dos mui enrolados judicialmente PR e PP e do DEM.
O PSD, centrão típico, está bem representado e distribuído pelo BBB.
É possível que parlamentares filiem-se a várias frentes mais por pragmatismo e tática do que por filiação às tais ideias conservadoras de tais agrupamentos (que são, na verdade, as opiniões de seus integrantes mais ativos). Há sete petistas na bancada do boi e sete na bancada da Bíblia, por exemplo. É possível que vários deputados tenham apenas assinado a lista, sem assistir às aulas, sem militar de fato.
O candidato da extrema direita recebeu o apoio em tese formal da Frente Parlamentar da Agropecuária, apelidada de “bancada do boi”, uma lista assinada por ao menos 213 parlamentares em exercício. Em si mesmo, esse partido informal gigante não quer dizer grande coisa.
Caso venha a vencer ou a liderar um bloco de direita, Bolsonaro deve tentar recolher deputados de tripla militância BBB, a princípio que não sejam evidentemente mensaleiros e petroleiros, para não queimar o filme anticorrupção logo de cara.
Feitas as intersecções desses conjuntos, pode montar um partido que conte com 50 a 80 deputados. Seria um dos maiores da Câmara. Caso vença a eleição, o resto da maioria na Casa poderia vir do adesismo gravitacional típico. Funcionou com Fernando Collor, até o governo amalucado e de votação minoritária no primeiro turno virar um salseiro, de resto corrupto.