O Banco Central do Brasil reduziu a taxa básica de juros hoje em meio ponto, para 12,75% ao ano, conforme esperado pelo mercado, e deu vários recados no texto que acompanhou a decisão. Um deles é o de que os juros vão continuar caindo em meio ponto nas próximas reuniões, e isso praticamente tira de cena a chance de aceleração da queda para 0,75 ponto, como gostaria o governo. Além disso, houve alerta à gestão do presidente Lula de que é preciso cumprir as metas fiscais.
Veja abaixo os cinco principais recados dados pelos diretores do Banco Central.
1- Governo precisa focar no compromisso fiscal
O Copom mandou recado ao governo Lula, dizendo que é preciso ser firme no cumprimento das metas. Para o ano que vem, a Fazenda prometeu zerar o déficit, mas no mercado há muita desconfiança sobre a capacidade de se entregar esse resultado:
“Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas.”
2- Cortes continuam em meio ponto
O BC praticamente tirou do cenário a chance de uma aceleração nos cortes de juros para 0,75 ponto na última reunião do ano, em dezembro, como apostavam alguns economistas. Isso foi dito de forma explícita no trecho abaixo:
“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário.”
3- Serenidade e moderação para levar a inflação para a meta
O Banco Central também disse que é preciso “serenidade e moderação” para levar a inflação para a meta. Essa é uma forma de o banco tentar se blindar das pressões para cortar os juros mais rapidamente:
“A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação com reancoragem parcial, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária. O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.”
4- Cenário externo ‘incerto’
Com vários bancos centrais subindo ou ameaçando subir as taxas de juros – o que diminui o diferencial de juros em relação ao Brasil – o BC abriu o comunicado chamando o cenário externo de “incerto”.
“O ambiente externo mostra-se mais incerto, com a continuidade do processo de desinflação, a despeito de núcleos de inflação ainda elevados e resiliência nos mercados de trabalho de diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas. O Comitê notou a elevação das taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos e a perspectiva de menor crescimento na China, ambos exigindo maior atenção por parte de países emergentes.”
5- Inflação de serviços
Outro ponto destacado pelo Banco Central é a resiliência da inflação de serviços, pela queda da taxa de desemprego e crescimento da economia acima do esperado. Ainda assim, o BC estima que haverá perda de fôlego no nível de atividade nos próximos trimestres.
“Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado.”
por Renan Monteiro / Extra