A cada novo dia, o xadrez político em Brasília assume novos cenários e as peças se embaralham. Visto até pouco tempo como inimigo do Planalto, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), teve a sua armadura de poder perfurada por denúncias de lavagem de dinheiro e corrupção. Nos últimos dias, oposição e governo têm negociado com ele, respectivamente, a aprovação e a rejeição do impeachment, em troca de livrar o deputado do processo de cassação do mandato no Conselho de Ética da Casa. Nos bastidores, sabe-se que o peemedebista busca um alicerce para driblar a situação. Para a bancada pernambucana, o sentimento é que o processo de impeachment arrefece com Cunha à frente.
Para Jarbas Vasconcelos (PMDB), a prioridade atual é a cassação do mandato do deputado. Segundo ele, Cunha não tem “estatura moral” para dar andamento ao impedimento, já que sofreu denúncia formal por cobrança de propina em contratos da Petrobras, além de ter sido citado como titular de contas na Suíça. “Ele não reúne condições morais nem éticas. Além disso, o ambiente entre ele e o Supremo está péssimo”, avaliou o parlamentar.
A Procuradoria-Geral da República solicitou ao STF que abra novo inquérito para investigar o congressista. “Não se pode confiar nunca num desqualificado e num bandido. Quando se abre diálogo com um bandido dá nisso”, disparou Jarbas, que é cotado para assumir o posto de Cunha.
Único membro da bancada do Estado no Conselho de Ética, Betinho Gomes (PSDB) critica o suposto “acordo” entre o Planalto e Cunha e avalia que o processo de impeachment está “seriamente ameaçado”. “Esse é o trunfo que ele tem na manga”, observou. O parlamentar, porém, se resguarda quanto à opinião frente ao afastamento do parlamentar. “Já tenho uma inclinação, mas não quero me antecipar porque corro o risco de ser relator. Prefiro que o processo seja deflagrado e tê-lo na mão para me posicionar”, explicou.
Vice-líder de Dilma, Silvio Costa (PSC) afirma que não há acordo do governo com Cunha. “Neste momento ele está procurando o mundo todo para ver se escapa”, ironizou. Costa citou o passado recente para legitimar a tese de que a queda de Cunha se avizinha. “Quando José Dirceu foi para o Conselho de Ética diziam que o governo fazia grande ‘acordão’ para salvá-lo e não conseguiram. O mesmo aconteceu com André Vargas”, comentou. (Jornal do Commercio)