Daniela Lima – Painel – Folha de S.Paulo
Quem precisa de inimigo? – Ao desautorizar indiretamente em seu Twitter uma fala do ministro Santos Cruz (Secretaria de Governo), Jair Bolsonaro inflamou a ala que age para reduzir o espaço dos militares em sua gestão. O texto do presidente foi distribuído por simpatizantes de Olavo de Carvalho que pedem a demissão do general. A reação dos fardados veio num lamento: “Não é construtivo para ninguém. É tudo que a esquerda deseja, nossa desunião e o desajuste de ideias”, resumiu um dos que atuam no Planalto.
O estopim para a farpa lançada pelo presidente contra o ministro foi uma entrevista concedida por Santos Cruz à jornalista Vera Magalhães há um mês. Na ocasião, ele fez um chamado ao comedimento nas redes e disse que seu uso deveria ser “disciplinado” para evitar distorções do debate por extremistas.
O general mencionou na entrevista uma “melhoria” da legislação, sem falar em regulamentação, mas o uso da palavra “disciplinado” foi pinçado por integrantes do governo, provocando a reação de Bolsonaro.
Trecho da fala de Santos Cruz foi distribuído em grupos de WhatsApp por simpatizantes de Olavo de Carvalho na manhã deste domingo (5). Depois, no início da tarde, a resposta em que o presidente rechaçou qualquer regulação de mídias foi anexada aos destinatários para que não restasse dúvida sobre seu alvo.
Santos Cruz atua em duas pontas sensíveis do governo: a articulação política e a publicidade. Há tempos sua atuação é questionada por olavistas que veem nele um entrave a manifestações mais incisivas de Bolsonaro nas redes.
Jogada casada – Mais recentemente, integrantes da equipe econômica e outros técnicos reclamaram da mão firme com que o general segura a publicidade. Nas redes bolsonaristas, a campanha “Carlos Bolsonaro ministro” foi acoplada aos ataques a Santos Cruz.