O notário e poeta mineiro Murilo Monteiro Mendes (1901-1975), no poema “Arte de desamar”, faz um bem-humorado relato de um caso de amor que pode não dar certo.
ARTE DE DESAMAR Murilo Mendes
Meu amor é disponível, A qualquer hora ele fecha; A crise de convicção É mesmo muito grande.
As pernas do meu amor Distraem da metafísica, O corpo do meu amor Tem a vantagem sublime De disfarçar o horizonte.
Eu não amo meu amor Para quê tapeação. Não amo ninguém no mundo, Nem eu mesmo, nem me odeio.
Meu amor é uma rede Onde descanso da vadiação. Os olhos do meu amor São bastante distraídos, Não vêem meu desamor.
Com o porta-seios moderno Os seios do meu amor Aparados à la garçonne Ocupam lugar pequeno No espaço do seu corpo.
Se meu amor qualquer dia Me abandonar, ai de mim! Eu não me suicidarei… Escreverei mais poemas.