“Apelando ao coração na campanha eleitoral “…

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A emoção entrou em campo. Na reta final da campanha eleitoral, e desprovidos de programas de governo impactantes, os candidatos à Presidência da República começam a adotar discursos repletos de emotividade e sustentados por vozes embargadas e trêmulas. Ganhar o voto tocando o coração do eleitor é uma das receitas mais antigas que existem. Mas, apesar de antiga, continua dando certo.

Aliada ao mote emocional, a exposição de privações é uma tática mais do que bem aceita. Combinação perfeita, tal como arroz com feijão e goiabada com queijo. A candidata Marina Silva não inventou a roda, mas soube muito bem dizer publicamente que passou fome e que, por isso, não acabará com o programa Bolsa Família. Não faltou, em seu discurso, uma pequena pausa ao explicar que sua família tinha para comer apenas um ovo e farinha.

Mas ela não é a única a utilizar o recurso. Aécio Neves também faz um apelo emocional ao pedir para os mineiros que não o deixem passar por mentiroso, já que ele havia dito que ganharia em Minas Gerais com folga. Ele ainda repete a tática ao citar um frase famosa de seu avó Tancredo Neves: “Não vamos nos dispersar”. A afirmação foi feita por Tancredo para conseguir unidade em torno de sua candidatura à Presidência no Colégio Eleitoral, no fim da ditadura militar.

A campanha petista também não fica para trás. O ex-presidente Lula sempre usou desse artifício. A promessa de colocar três refeições diárias na mesa de cada cidadão brasileiro na campanha de 2002 é um exemplo. A história que ele sempre contava em palanque sobre sua trajetória de menino pobre e retirante do Nordeste é outro exemplo. A presidente Dilma Rousseff, nas poucas vezes em que falou da sua luta contra a ditadura militar, também tangenciou o apelo emocional, ainda que em menor intensidade.

APELAÇÕES

Não há nenhuma ilegalidade na utilização desses recursos. Mas o eleitor precisa estar atento. Passar fome, ser neto de um grande líder, ter passado privações durante grande parte da vida não credencia ninguém para uma candidatura presidencial. Certamente, experiências como essas são capazes de tornar as pessoas melhores, mais sensíveis e capazes de entender as mazelas humanas. Para ser presidente, entretanto, há outros quesitos importantes. E somente para refrescar a memória do eleitor: as histórias de privações dos candidatos são muito antigas, há muito tempo eles todos já integram uma classe que somente presencia essas dificuldades quando vão fazer campanha nos grotões do país.

Talvez seja melhor para o eleitor verificar o que cada um dos candidatos foi capaz de fazer desde que a dificuldade vivida por ele foi ultrapassada. Uma pergunta não pode deixar de ser colocada: para ser candidato o importante é passar fome ou lutar contra ela? (Por Carla Kreefft / transcrito de O Tempo)