“Bom dia joãoalfredenses! Soltaram aqui ontem na rua da Moenda três cachorros, acho que têm dois meses, são lindos! Alguém interessado? Pode vir pegar, faça sua parte”. Foi esse o aviso dado pela professora Shirley Costa, na manhã desta quarta-feira (28), através das redes sociais. A professora, como outros moradores da Rua Djair Santos (da Moenda), ficou sensibilizada e preocupada com este problema que vem aumentando a cada dia na cidade de João Alfredo.
Na semana passada, no Povoado da Melancia, este blogueiro se deparou com uma cadelinha vira-latas às margens da rodovia PE-88, com seis filhotinhos. Caso de doer o coração de quem tem o mínimo de sentimentos. Alguns garotos que presenciaram tal cena, de imediato apelidaram a cadela por Branca. Não se poderia chegar perto dos rebentos de Branca, nascidos, segundo cálculos dos entendidos, há cerca de três semanas. Como boa mãe, ela não queria ninguém mexendo com sua prole. A família deve ter ficado balançada por perder o lar de uma hora para a outra. Dentro de um velho balaio a cadela e seus bebês foram largados na beira da estrada com um punhado de ração, sem água. E não aparecia quem topasse a parada pela adoção dos animais. No outro dia, ao passar pelo mesmo local, Branca e sua turminha lá não estavam. Talvez tenham encontrado bom destino.
Não é a primeira vez que uma cena dessas ocorre não só na Melancia, mas em todos os recantos deste município. E não é só com cães, mas gatos e animais de grande porte como jumentos e cavalos, estes últimos tragados pela avançada idade. Os descartes acontecem em ruas, praças, estradas e portas de residências. O pior é que muitos bichinhos contraem doenças e outros apresentam ferimentos causados por atropelamentos.
Grande parte dos animais abandonados já teve uma casa e foi abandonada pelo dono. Trata-se apenas de uma amostragem. O problema, certamente é muito maior. Não existem estatísticas oficiais a respeito do assunto, pois contabilizar a população de animais desamparados configura tarefa bastante difícil. Eles costumam se concentrar em áreas de limpeza escassa e com abrigo, como terrenos baldios e construções. Além disso, alguns têm endereço fixo, mas contam com acesso à rua, outros estão perdidos e há os chamados “cães comunitários”, cuidados por diversas pessoas.
Os casos de pets que já tiveram dono, mas viraram “órfãos”, são de cortar o coração. Mesmo com a difusão da ideia de considerar os bichos como integrantes da família, algumas pessoas ainda seguem a direção de percebê-los como mercadorias, que, consequentemente, podem ser descartadas. “Já ouvi os motivos mais absurdos de tutores para desistir das mascotes, do tipo de ‘fiquei grávida’ ou ‘comecei a namorar e minha parceira tem medo’ ”, diz a doméstica Zefinha Araújo, adotante de três cães e dois gatos.
Os períodos de férias e festas de fim de ano acumulam recordes, pois os proprietários vão viajar, não têm com quem deixar os amigos de quatro patas e optam pela medida extrema do descarte. “Nunca me esqueci de quando fui procurada por uma mulher que ia se mudar de casa e queria deixar comigo seu cachorro de 10 anos. Como pode jogar fora um companheiro de uma década?”, espanta-se Zefinha.
Em dezembro, o aposentado Carlos Rodrigues’ transitava nas imediações da Encruzilhada (Bom Jardim-PE) quando suspeitou de um carro que se movia lentamente pela via. Demorou pouco tempo para o motorista jogar pela janela do veículo uma cadela de cerca de 1 ano. “Não acreditei no que estava vendo”, confessou Rodrigues. “Quando percebi o sumiço definitivo do condutor, uma senhora de nome Cosma apanhou a vira-lata e a levou para casa. Dias depois, estive na casa da senhora e a mesma me informou que Clara, como foi batizada, estava prenhe. Hoje, Dona Cosma vive com os três filhotes e Clarinha, além de dois gatos. A cadela ficou triste durante muito tempo, chorava e procurava pelo antigo dono”, pontuou o aposentado.
Nem só as mascotes sem raça definida acabam rejeitadas. Às vezes, as pessoas compram os pets com pedigree por impulso ou para estar na moda, depois, por causa de algum desvio de comportamento, gestação, doença ou idade avançada, elas os deixam de lado.
Veterinário Elzinho Cavalcanti e Gabriel Moura
Gabriel Moura
Há anos, o funcionário público Gabriel Moura comanda uma associação denominada Amicão, bancada com recursos próprios e colaborações de algumas pessoas, além da participação do comerciante e veterinário Elzinho Cavalcanti, que “segura as despesas” em seu estabelecimento comercial, até que as receitas vão aos poucos aparecendo. No entanto, para o desespero do ativista, as crises financeiras são constantes e o aumento da população de cães e gatos abandonados cresce a cada dia.
Hoje (28), o Gabriel postou em sua conta nas redes sociais, uma nota que merece ser apreciada por todos os segmentos da sociedade joãoalfredense, destacando-se os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, Igreja Católica, Igrejas Evangélicas, Centro Espírita, Comércio, Indústria, Escolas e demais associações de classes. Eis um trecho da nota:
“Apesar de algumas pessoas me ajudarem com rações e medicamentos, houve vários momentos em que eu tive que optar entre pagar uma conta de energia ou comprar ração para eles, de optar entre levar comida pra casa ou comprar a comida deles. Diante de tudo isso, não sei mais o que fazer. Gostaria muito que as autoridades do nosso município pudessem tentar solucionar a questão dos animais de rua do nosso município, até porque, creio eu, que isto é uma questão de saúde pública, creio que é um dever de todos nós. Inclusive hoje pela manhã estive na sede da Promotoria de Justiça da Comarca de João Alfredo e tive uma audiência com o digníssimo promotor de justiça Dr. Helmer Rodrigues, expus pra ele não só este meu caso, mas como de outros casos que tenho conhecimento, ele se sensibilizou muito e me pediu que assim como eu outras pessoas que lutam a favor desses animais, fossem falar com ele, inclusive sugerindo algumas soluções. Tivemos a ideia de em breve, realizarmos uma audiência pública para tratar do tema. Temos informação que a prefeitura dispõe de alguns terrenos de pequeno porte que atualmente se encontram inutilizável e que poderiam construir um abrigo para acolher e cuidar desses animais. Caso essas informações sobre os terrenos sejam confirmadas, sugeri de antemão que se a prefeitura pelo menos doasse o terreno e ajudasse a manter, e nós iríamos nos responsabilizar para a construção desse abrigo através de realização de bingos, campanhas, doações, etc.
Peço desculpas pelo texto longo e peço ajuda de todos. Que Deus nos ilumine e nos proteja. Muita paz pra todos!”
Na verdade, o tema é mais complexo do que se pode imaginar e envolve a sensibilidade das pessoas. “Os animais abandonados fazem parte, de alguma maneira, da parcela excluída da sociedade. Em um universo que se acostumou com a presença de crianças nas ruas, como avançar na questão dos bichos?”, indaga Gabriel.
Centro de Controle
Na sessão ordinária da Câmara Municipal de João Alfredo, realizada no dia 16 do corrente mês, a vereadora Rosa de Ribeiro Grande (PSB) apresentou o Requerimento nº 05/2018 à Prefeitura Municipal, propondo a criação de um Centro de Controle de Zoonozes (CCZ) ou a ativação de algum programa que já exista neste sentido no âmbito da municipalidade.
Em sua justificativa, a vereadora frisou que a proposição visa, acima de tudo, prevenir, reduzir e eliminar o adoecimento e a morte, bem como o sofrimento humano causados pelas zoonoses e doenças transmitidas por vetores (por exemplo: insetos, carrapatos, caramujos), preservando a saúde da população humana e animal, mediante conhecimentos científicos, especializados e experiência da saúde pública veterinária. Para tanto, torna-se necessário o controle das populações de animais tanto domésticos como sinantrópicos, através de castrações e cirurgias em fêmeas. As ações seriam desenvolvidas a partir de vários programas existentes em saúde pública, visando sempre minimizar o risco de ocorrência de agravos à saúde e oferecer melhor qualidade de vida aos munícipes.
Abandono/Educação
O abandono cria um problemão de saúde pública para João Alfredo. Os cães e gatos podem transmitir doenças, como raiva e leishmaniose, e causar acidentes. Um dos modos mais utilizados para tentar conter esse grupo é a castração, a fim de evitar a reprodução descontrolada. Além da castração, a educação sobre posse responsável aparece como aspecto fundamental para atenuar a situação. Pouco adianta os movimentos se os donos continuam largando os pets indiscriminadamente. Ao adotar, deve-se saber que os animais têm necessidades, provocam gastos, trazem comportamento imprevisível e vivem por muitos anos.
É preciso que o Poder Público Municipal além de criar um local específico para estes animais, promova campanhas focadas na conscientização com o objetivo de tentar mudar essa realidade.