Análise de cenários políticos e suas interferências para 2018…

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Por Ayrton Maciel*

Passadas as eleições municipais de 2016, está clara uma derrota do campo da esquerda, com um profundo impacto no PT – líder e maior legenda desse campo – que geram expectativas e previsões, mas poucas certezas sobre como o partido vai enfrentar o momento de debàcle pelo qual passa. É esperada – e necessária – uma profunda autocrítica, da qual saia, talvez, um partido mais “enxuto”, mais programático, hierárquico e disciplinado. Com muito menos influência decisória, causadora de sucessivas turbulências, das correntes ideológicas. Seria o ideal, mas é imprevisível. O PT não soube fazer este debate no após escândalo do mensalão, terá coragem agora?

CENÁRIOS NACIONAIS

a) A Lava Jato é um “porém” sem previsão de tempo para acabar. E leva a outros “poréns”. Um deles é que a derrota de 2016 tem consequências imediatas, nacionais e locais, sendo que dentro de dois anos haverá eleições gerais para presidente da República, governadores, Congresso Nacional e Assembleias. Não haverá muito tempo para refazer o PT. Nomes de expressão do PT nacional, como Tarso Genro e Fernando Haddad, querem uma autocrítica profunda. Setores sociais e acadêmicos e personalidades públicas ligadas ao PT também pregam a refundação do partido. O PT o fará? Haverá expurgos? Caso não o faça, o PT terá condições de liderar um projeto e aglutinar a maior parte das esquerdas em 2018? Provavelmente, não.

b) Repetindo: a Lava Jato é um “porém” sem previsão de tempo para acabar. A vitória de Geraldo Alckmin na capital de São Paulo, elegendo o neófito João Dória prefeito, e as sucessivas e mais recentes denúncias de Caixa 2 e propinas para Aécio Neves e José Serra, feitas na Lava Jato, elevam o governador paulista como nome favorito do PSDB para a presidência do país em 2018. Porém, Alckmin não está isento de ser atingido por escândalos do seu governo e pela própria Lava Jato. Não deve ser desconsiderado, mas o que se tem hoje parece ser insuficiente para inviabilizá-lo.

Continua…

c) Objeto de desejo de Alckmin para 2018, o PSB – que teve grande crescimento, em 2012, mas apresentou perda no número de prefeituras em 2016 – ocupa a vice-governadoria de São Paulo, com Márcio França, que defende o apoio dos socialistas ao tucano. Fortalecido, França tem pretensões de assumir a presidência do PSB e conta com a queda de influência dos socialistas pernambucanos na Executiva e no Diretório Nacional. É uma possibilidade significativa. A defesa da candidatura própria, feita pelo PSB de Pernambuco, deve perder força na medida em os socialistas locais apresentam um racha interno e ainda devem passar pelas conclusões das investigações da Polícia Federal nas operações Lava Jato, Arena e Turbulência.

d) Paralelamente, Michel Temer pode apostar no projeto Michel Temer, caso a economia apresente resultados acima das previsões dos analistas, inclusive no item mais influente: o nível de emprego. Isso ocorrendo, Temer pode esquecer as promessas de que não será candidato e colocar em risco o projeto do PSDB. Porém, deve-se considerar o que virá da Lava Jato-Odebrecht e a quem atingirão as delações premiadas que estão previstas dos principais dirigentes da empreiteira.

e) Marina Silva não é novidade e não tem recall para 2018. Saiu no primeiro turno de 2014. A Rede não tem capilaridade social e dependerá, se insistir em ter candidatura, de aliança com partido sólido. Até lá, a nova reforma política estará em vigor e os pequenos partidos estarão atados à cláusula de barreira e restrição ao fundo partidário. Dona da Rede, Marina Silva dificilmente terá nova chance. Vem de dois reveses. Em 2014, em busca do poder a qualquer preço, preferiu ser vice de Eduardo Campos. Assumiu após a morte do socialista.

f) Ciro Gomes aparece, hoje, em razão da perseguição persistente pela desconstrução de Lula, como o principal nome da oposição aos nomes de Temer, Aécio, Alckmin e Serra. Ou seja, ao PMDB e ao PSDB para 2018. Tem um problema: a língua solta de Ciro. Ela desagrega, e ele vai precisar de alianças expressivas. Se souber se portar “politicamente correto”, pode atrair e agregar o PT, o PCdoB e outras legendas na oposição (talvez, o PSOL). Há possibilidade do grupo que está no poder nacional, caso não rache, de chegar muito forte em 2018. A oposição vai precisar de uma esquerda menos autofágica.

g) As chances do PT ainda são Lula, mas o massacre da Lava Jato deve impedi-lo de disputar. Ele terá de sair inocentado ou a operação desacredita pu desarticulada, o que não é provável. Se o PT decidir ter candidatura própria, os nomes que tem hoje – fora Lula – é Haddad e José Eduardo Cardoso, este que emergiu na defesa da presidente Dilma, porém, é mal-visto pelos lulistas que consideram não ter tido pulso para conter a Polícia Federal. Talvez o Tarso Genro, moderado e limpo, mas que – porém – fez uma gestão desastrosa no Rio Grande do Sul. Nos cenários atuais, todos são ruins para o PT numa candidatura própria.

CENÁRIOS LOCAIS

Em Pernambuco, é falsa a ideia – que o PSB quer vender – de que foi o grande vitorioso da eleição. O PSB não saiu fortalecido no Estado, como no nacional diminuiu o número de prefeitos de capitais e municípios. Aqui, embora tenha feito duas prefeituras a mais que em 2012, o PSB perdeu em Caruaru, Jaboatão, Olinda, Serra Talhada, Salgueiro, Garanhuns, Araripina e Palmares, grandes cidades do Estado. Exceto Palmares, as demais estão sob alinhamento ou influência do líder da oposição e potencial candidato a governador, senador Armando Monteiro Neto. O PSB ganhou em Arcoverde e Petrolina, mas nesta última o principal líder, senador Fernando Bezerra Coelho, está citado na Lava Jato.

a) O PSB tem graves problemas internos para 2018. O governador Paulo Câmara vai muito mal, porém, tem o apoio da maioria do grupo do partido construído em torno do ex-governador Eduardo Campos e hoje liderado pela viúva Renata Campos. As derrotas em Olinda e Caruaru revelaram – novo “porém” – o partido rachado. A derrota de Antônio Campos, em Olinda, e a posição de Luciano Vasquez de apoio a Raquel Lyra (PSDB) em Caruaru, que resultou na sua exoneração de Suape, expuseram a divisão na família e no grupo.

b) Paralelamente, o PT está bastante fragilizado no Estado (mais ainda no País). Consequência de fatores locais, de 2012, e nacionais, pelo desempenho da economia no governo Dilma, pela Lava Jato e pela conspiração que levou ao impeachment de 2014 para cá. A votação obtida por João Paulo, no Recife, deve ser creditada maciçamente ao seu legado de gestor (ex-prefeito duas vezes), carisma e prestígio político popular. Sozinho, o PT não tem chances em Pernambuco, a não ser que Lula derrote a Lava Jato e renasça como candidato em 2018. Seria Lula de volta e com força em dobro. Sozinho, o PT dividirá as oposições.

c) Há, porém, uma possibilidade: PT e PSB se reaproximarem. É provável, caso o senador Armando Monteiro Neto acorde uma aliança com um ou com os dois: Mendonça Filho, do DEM, e Bruno Araújo, do PSDB. O PT estaria fora, por questão local e alinhamento nacional. Isso levaria a um afastamento do PT, que não iria compor com “golpistas”. Ao mesmo tempo, haveria um afastamento do PSB dos aliados PSDB e DEM, na medida em que os socialistas vão querer renovar o mandato de Paulo Câmara. Porém, um realinhamento entre PT e PSB geraria um risco: como ficaria o PMDB de Jarbas Vasconcelos e Raul Henry? PSB e PMDB poderão se compor, mas o PT não aceitaria participar de uma chapa com o “golpista” PMDB de Temer.

d) Uma aliança entre o candidato a governador Armando Monteiro, Bruno e Mendonça levaria a um afastamento entre PTB e o PT. Por outro lado, apesar do PSB também ser “golpista”, o ex-prefeito João Paulo já admitiu a possibilidade de reaproximação PT-PSB.

e) Uma outra possibilidade atenderá ao interesse do PDT, tendo Ciro Gomes como candidato a presidente da República. Muito provavelmente, há desejo do PDT de se compor com o PT e o PSB, no nacional e no local. Essa pode ser a composição mais representativa da esquerda em 2018, que poderia atrair também o PCdoB.

CONCLUSÕES

Hoje todos os cenários estão em aberto. E uma série de pendências e influências impedem que esses cenários sejam aclarados em breve espaço de tempo. Em Pernambuco, há que se esperar o desenrolar das Operações Lava Jato, Turbulência e Arena. Essas investigações podem liquidar aspirações majoritárias nacionais do PSB para 2018 (presidência ou vice). Igual expectativa sobre a Lava Jato se dá no plano nacional. Em 2018, poderemos ter PT e PSB novamente aliados, em Pernambuco, porém, desgastados e inviabilizados.

No plano local, é preciso acompanhar os desdobramentos da briga interna no PSB. E também as repercussões das recentes denúncias de espionagem política no Estado, via Casa Militar do governo, feitas por Antônio Campos e uma ex-procuradora geral do Estado. Se as denúncias se confirmarem, gerará um desgaste político profundo ao governo Paulo Câmara. Será o Watergate do PSB. Poderá haver abertura de investigação pelo Ministério Público e, fatalmente, o acompanhamento nacional do caso.

Deve-se considerar, ainda, a influência sobre os cenários nacionais – e do nacional sobre o local – das reformas adotas e em planejamento do governo Temer. Como os movimentos sociais vão reagir e como a população vai receber questões como a PEC 241 e a reforma do ensino médio? E, principalmente, como vão reagir às reformas da previdência, trabalhista e política? Isso, mesmo que a economia dê sinais de recuperação até 2018. Se a economia não reagir e os empregos não vierem, PMDB, PSDB e aliados chegarão em 2018 igualmente desgastados e impopulares.

*Jornalista- Recife/PE