Alunos com TDAH: os conflitos e o papel da escola diante do diagnóstico

Por: Adelmo Lucena/Diário de Pernambuco – Dificuldade em concentrar-se nas atividades, aversão a enxugar o corpo depois do banho e atrapalho na hora de amarrar o cadarço do tênis. Esta é a rotina de Adriano Santoro, de 11 anos, diagnosticado com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) no ano passado. Este transtorno faz com que ele encontre dificuldade em realizar algumas atividades do dia a dia.
Na escola, Adriano nem sempre é bem visto pelos colegas e funcionários, que insistem em tratá-lo como uma criança neurotípica (que não apresenta alterações neurológicas ou do neurodesenvolvimento) e aplicar as mesmas exigências e punições impostas aos outros alunos. 
Colocado sozinho em uma sala como punição, Adriano entrou em crise por sentir-se isolado e passou mal. Diante desta situação, a musicista e mãe de Adriano, Cecília Santoro, levou o filho para um profissional e soube do diagnóstico. Depois disso, a escola foi informada sobre a condição de Adriano, mas não prestou o suporte necessário e foi omissa diversas vezes, segundo Cecília.
Uma das situações mais marcantes para a família aconteceu na semana passada, quando Adriano chegou atrasado no colégio, por ter dificuldades em cumprir horários, e não foi autorizado a assistir a aula. Cecília relata que tentou conversar com o diretor, mas foi recebida com ironia e não foi levada a sério. Após o episódio, a escola não deixou claro se irá autorizar a entrada de Adriano após o horário padrão. A mãe do estudante acredita que o colégio foi negligente e não disponibiliza os recursos necessários para dar aula a uma criança com TDAH.
TDAH além da infância
Casos como o de Adriano não são raros, mas o TDAH não se restringe apenas à infância e acompanha o indivíduo em todas as fases da vida. A psicóloga clínica infanto-juvenil Thaís Carolina também tem uma filha diagnosticada com o transtorno. Ana Fialho, de 17 anos, está no 3º ano do Ensino Médio, e já apresentava alguns sinais do TDAH quando estava no Ensino Fundamental. Com dificuldades na leitura, inquietação na sala de aula, ansiedade e pouca concentração, Ana desenvolveu uma baixa autoestima e se cobra para tentar alcançar os colegas de classe.
A mãe da estudante percebeu os sintomas que a filha apresentava desde pequena. “A escola da minha filha não nos trouxe a possibilidade de diagnóstico. Nem sempre as escolas estão aptas ou atentas a sinais como desatenção e impulsividade. Mas como trabalho com essa demanda, fui percebendo ao longo dos anos”, explicou.
Thaís afirma que as medidas tomadas pela escola são paliativas, mas não deixam de ser importantes para o desempenho da filha. Entre as determinações adotadas pela instituição de ensino estão o estabelecimento de um maior tempo de prova e prioridade para sentar na cadeira da frente. Além disso, Ana faz o uso de medicação prescrita por um neurologista e uma neuropsicóloga nos períodos de prova para aumentar a concentração. 
A neuropsicóloga Kátia Guerra explica que as medicações auxiliam as pessoas com o transtorno.  “Relatos clínicos apontam que alguns medicamentos podem ajudar a melhorar a atenção e impulsividade para muitos pacientes, mas devem ser medicados com um diagnóstico preciso, pois podem ocorrer muitos efeitos colaterais mesmo com diagnósticos precisos trazendo sintomas como insônia, perda de apetite, aumento da pressão arterial ou até ansiedade”.
A relação entre os alunos e profissionais da educação pode ficar conflituosa caso a criança ou adolescente não tenha recebido o diagnóstico de TDAH. Por este motivo, os profissionais podem acreditar que o aluno é desobediente, desatento ou impulsivo sem motivos. Mas quando o colégio está ciente da condição do aluno, ele deverá ofertar os recursos necessários para garantir o aprendizado de qualidade.
Entre os principais comportamentos de estudantes com TDAH estão:
  • Incapacidade para realizar tarefas demoradas
  • Conversar enquanto todos estão quietos
  • Impaciência para esperar
  • Distração constante
  • Perda e esquecimento do material escolar
  • Dificuldade em organizar os materiais
  • Movimentos físicos em excesso
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