Aline Mariano: ‘A oposição ao PT não está morta’

Por: Carlos Cavalcanti/Diário de Pernamuco – Reconduzida para o quarto mandato como vereadora do Recife, após o pedido de licença de Andreza Romero (Podemos) para assumir a Secretaria Executiva dos Direitos dos Animais, Aline Mariano (PP) retornou à Câmara Municipal com a experiência de quem ocupou posicionamentos distintos ao longo de uma vida pública dedicada ao Poder Legislativo.
Ao Diario de Pernambuco, a progressista adiantou que irá disputar a reeleição em 2024 e elogiou o modelo de gestão do prefeito João Campos (PSB). Destacou a produtividade da Câmara do Recife na atual legislatura e o nível das discussões, mas ressaltou que se tem “perdido tempo” com debates sobre “temas inócuos” e que “em nada acrescentam à sociedade”. Aline analisou o primeiro semestre das gestões do presidente Lula (PT) e de Raquel Lyra (PSDB), e apontou, entre os principais gargalos da governadora, falhas na comunicação e excesso na centralização para tomada de decisões.
Mandato
“Assumi há pouco, pela quarta vez, a oportunidade de ser vereadora do Recife. E quem me conhece sabe que nunca mudei a forma de me relacionar com a Casa e os colegas. Já fui líder da oposição, líder do governo e presidi importantes comissões na Câmara. Por mais que os debates fossem acalorados, nunca deixei de ter a compreensão que, ali dentro, estávamos debatendo ideias e posições diferentes, mas que isso jamais geraria indiferenças. Acho que o tempo e as experiências vividas trazem essa maturidade. Por isso fui muito bem recebida na minha volta.”
Prioridades
“Por mais que a área social tenha sido um tema forte associado à minha imagem, nunca fui uma vereadora de segmentar apenas determinadas bandeiras na minha atuação. Tenho projetos e leis importantes na área de defesa do consumidor, na infraestrutura, dos direitos da pessoa idosa, no acesso à saúde, nos setores ambiental e cultural, entre tantos outros. Tenho ideias novas em debate para esse novo mandato voltadas à saúde mental. Precisamos trazer esse tema para o debate em todos os segmentos profissionais. A saúde mental vai ser uma das maiores preocupações dos gestores públicos nas próximas décadas.”
PP
“Nunca tive problemas com o PP nem com nenhuma outra sigla partidária. É do meu perfil o respeito máximo pelas instituições partidárias onde tive o prazer de estar. Com o PP não é diferente. Respeito a sigla e as pessoas que estão lá nos diretórios.”
2024
“Os planos não mudam por causa das duas cadeiras a menos. Temos que nos adequar às regras do jogo e continuar trabalhando. Quero mais uma vez disputar uma eleição limpa, transparente, entrando na casa das pessoas e prestando contas do meu trabalho enquanto vereadora do Recife. O resto é a vontade das urnas.”
Balanço
“Acho que a Casa tem realizado um bom trabalho e que estamos em um excelente ritmo de apreciação de projetos de lei, de outras proposições importantes e de fiscalizações. Tenho feito críticas pontuais a alguns temas inócuos que muitas vezes são trazidos para a Casa e que nós, enquanto vereadores, não temos o poder de legislar sobre. Acho que perdemos tempo com isso e não acrescenta em nada para a sociedade. Quem me acompanha pode perceber as críticas que tenho feito nesse sentido, mas são sempre pontuais.” 
Lula
“Lula e Raquel foram as escolhas soberanas de quem foi às urnas. Tanto na esfera federal quanto aqui no estado, os dois gestores vão ter que mostrar muito serviço, pois ambos têm no retrovisor a formação de grupos de oposição fortes. Na verdade, quando se tem uma oposição forte é excelente para o processo democrático. Obriga o gestor atual é ser melhor e a acertar mais. O PT de Lula precisa mostrar que veio para reparar alguns erros graves do passado. Foi nos erros do próprio PT que Bolsonaro, na época, cresceu e se fortaleceu. Acho que Lula tem como e precisa pavimentar esse caminho.”
Raquel Lyra
“Percebo na atual gestão estadual um clima forte de insegurança. É como se estivessem perdidos na direção de algo que é muito novo e desconhecido. Falta diálogo mesmo. Além de tudo, está muito claro a centralização que a governadora faz do poder. Ninguém consegue governar bem um estado do tamanho de Pernambuco, com a complexidade dos problemas que temos, dialogando mal e centralizando a tomada de decisões em si. Raquel de fato não vai bem nesses primeiros seis meses. É um governo sem sintonia e rumo.”
Bolsonaro
“Ele está inelegível, mas a oposição ao PT não está morta. Temos nomes que despontam muito bem nesse cenário para 2026. É claro que é muito cedo para fazer avaliações, mas também está claro que existem políticos, mais moderados que Bolsonaro, que vem encabeçar e liderar a oposição. Estão na mesa nomes como o do atual governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos); o governador de Minas, Romeu Zema (Novo); e Eduardo Leite (PSDB), do Rio Grande do Sul. Vamos aguardar essas movimentações. Torço para que o governo Lula possa dar certo.”
Chuvas
“É crucial o papel de qualquer legislador na prevenção e nas ações pós-efeitos dessas precipitações climáticas. Não só na Alepe [Assembleia Legislativa de Pernambuco], mas na Câmara do Recife. Sou a autora da proposição que criou na Câmara uma comissão de acompanhamento das chuvas e os efeitos para a população das áreas de risco. Falando da nossa capital, João Campos tem se mostrado um prefeito preparado demais para o enfrentamento dos problemas seculares que a cidade tem. Existe por parte da gestão uma sintonia muito grande com os parlamentares. O prefeito sabe que também estamos  próximos à população visitando, conversando, fiscalizando e trazendo para o Executivo a melhor indicação para os recursos públicos que vão mudar a realidade de quem sofre com as chuvas. Se o chefe do Executivo estiver em sintonia com as indicações e proposições do parlamento vai ter uma tendência natural de acertar mais nas suas ações.”
João Campos
“João foi buscar um crédito inédito junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento. Serão R$ 2 bilhões a serem investidos, grande parte, nos setores de risco da cidade do Recife para prevenir os efeitos das chuvas nas áreas mais críticas. O gestor que não entender a importância do parlamento nesse e em outros temas vai fracassar. Quem ouve mais, sempre acerta mais. Acho que João está no caminho certo. Conseguiu imprimir um modelo de gestão aprovado pela população.”