O Estado de S.Paulo – Eduardo Kattah e Pedro Venceslau
Em sua primeira entrevista exclusiva após ser denunciado por corrupção e obstrução da Justiça com base na delação do Grupo J&F, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) negou que tenha cometido crime e disse que foi gravado por Joesley Batista em “uma ação planejada com a participação de membros da Procuradoria-Geral da República”. Após a Operação Patmos, Aécio chegou a ser afastado do mandato, teve prisão preventiva solicitada e ficou em recolhimento domiciliar noturno. Ele admite apenas que cometeu “um erro” ao pedir R$ 2 milhões para o empresário. Leia os principais trechos da entrevista concedida ao Estado na quinta-feira passada.
Após um 2017 turbulento, qual é o seu projeto eleitoral para 2018? Está no seu radar voltar à Câmara?
Essa possibilidade não existe. Minha prioridade é responder de forma serena, mas muito firme, a todas essas denúncias que envolveram meu nome. Sou o primeiro a reconhecer que cometi um erro ao aceitar, de alguém que se dizia amigo, uma ajuda para pagar meus advogados. Mas não cometi crime. Quem foi lesado? O Estado foi lesado nisso? Houve alguma contrapartida? Não houve. Eu sei que a forma como isso é divulgado gera na opinião pública um sentimento muito negativo. Tenho 32 anos de mandatos honrados, dignos. Fiz um governo em Minas Gerais que virou referência para o Brasil. Fui candidato à Presidência da República defendendo aquilo que eu acreditava. Sem dúvida, parte dos ataques que eu recebo vem da forma como enfrentei o PT em uma disputa extremamente dura. No processo que culminou com o afastamento da presidente da República tivemos um papel que buscou tirar o Brasil da paralisia. Não tenho do que me arrepender da minha trajetória pessoal.
Mas e o episódio da delação do Grupo J&F…
Reconheço que errei nesse episódio (sobre a conversa gravada por Joesley Batista), principalmente na forma de me comunicar. Ainda que em uma conversa privada, com um linguajar pelo qual me penitencio pessoalmente. Mas os fatos vão demonstrando de forma clara que eu fui vítima de uma grande armadilha. Seja nas novas gravações – em especial uma, que parece ter sido omitida inicialmente – na qual minha irmã (Andrea Neves) oferece um apartamento de família e convida ele a visitar. Novos depoimentos mostram de forma clara que houve uma ação planejada com a participação de membros da Procuradoria-Geral da República. Vou dar aqui um dado que ainda não é de conhecimento público. No dia 24 de março, depois de uma reunião de várias horas na Procuradoria-Geral, aqui em Brasília, com a presença do senhor Joesley Batista, dos seus advogados, do (diretor jurídico da J&F) Francisco de Assis, ele (Joesley) pega um avião e vai a São Paulo para me gravar. Essa gravação foi feita após uma reunião em que o senhor Francisco de Assis afirma em seu depoimento que a gravação foi objeto de conversa dessa reunião na sede da PGR. Há um depoimento do advogado da JBS confirmando essa reunião. É óbvio que se deduz que ele saiu da conversa com procuradores com uma pauta.
Continua…