Por Luís Corrêa – Por muito tempo pensou-se que a água era um recurso inesgotável. A explosão demográfica, o mau uso da água, aliado a outros fatores combinados vem tornando escasso este recurso tão fundamental para a vida. Estudiosos apontam que em algumas regiões do planeta a água é escassa, comprometendo a sobrevivência do homem, de plantas e animais. De todo volume existente, uma pequena parte está disponível para a humanidade seja para consumo direto (beber, higiene pessoal e processamento de alimentos), ou atividades produtivas na indústria, agricultura, pecuária ou produção de energia. Estudos apontam que atualmente a água é considerada como um recurso de altíssimo valor econômico, estratégico e social.
O município do Bom Jardim, Agreste de Pernambuco, surgiu às margens de um riacho, em um lugar cheio de árvores frondosas e envolta em uma poética lenda para justificar o seu nome. A cidade é o maior produtor de limão do Agreste pernambucano, com uma região brejeira, onde favorece o cultivo das frutas, mas as fontes de água e matas ciliares do município estão um tanto prejudicadas, tendo a necessidade urgente de recuperação. Alguns produtores possuem fontes de águas que precisam ser recuperadas, entre elas, as comunidades de Pedra Fina, Chã da Preguiça, Cacimba, entre outras. Seja para consumo direto, ou para uso produtivo é evidente que a regeneração das fontes de águas em Bom Jardim é de fundamental importância.
Visando frear com o desperdício a escassez de água e conscientizar a importância do reflorestamento e o uso consciente desse recurso em Bom Jardim, no dia 05 de abril, o Instituto Mata Viva, órgão que objetiva a preservação ambiental, discute a degradação e se empenha para despertar a importância do uso consciente desse recurso natural, a preservação dos seus mananciais, bem como incentivar a agrofloresta, para a recuperação vegetal e do solo.
O técnico em Agroecologia, José Everaldo, é o criador da instituição há mais de 25 anos, na cidade de Panelas, onde já contribuiu bastante no estado de Pernambuco, com atuação em 16 cidades pernambucanas. O presidente do instituto explica quais os primeiros passos para a recuperação desses locais.
“Será feito o estudo topográfico das áreas, analisaremos o que aconteceu para que as nascentes tenham deixado de existir. Feita a identificação, será realizado o trabalho antropológico. Iniciará uma limpeza do olho d ‘água, a desobstrução da nascente, de onde saí à água, e serão removidas todas as pedras soltas e lamas, e as nascentes serão recuperadas a partir de agora”, explicou José.
O profissional comenta como se dá o trabalho de recuperação dos olhos d ‘água. “No trabalho de preservação do olho d ‘ água, será utilizado pedra rachão, pedaços de canos e um pouco de solo cimento (mistura de barro e um pouco de cimento). Em seguida vedados os olhos d’água, deixamos saídas para garantir que não vai se comprometer com os barros que caem das encostas. Logo depois será atualizado fortemente no reflorestamento, porque na medida em que será feito isso, a água volta”, comentou.
Esse sistema agroflorestal reúne as culturas de importância agronômica, integra o plantio de alimentos sustentáveis, e recupera todo o sistema. Desta forma, tanto a zona rural da cidade, quanto urbana, escolas e outras localidades são beneficiadas com a iniciativa.
Qual a duração da restauração das nascentes? “A sua duração depende do estado em que se encontra a nascente. Se é uma que já tem um trabalho de reflorestamento em volta dela, tanto diminui o custo para sua recuperação, como é mais fácil a sua atuação. Que passa a ser a preservação do olho d ‘água. Tem duração de três a dez dias, vai depender do acesso ao olho d´água”, afirmou José.
Além das nascentes que precisam de restauração, o município dispõe do Rio Orobó, que nasce na cidade vizinha, percorrendo dentro do Bom Jardim, o Rio Tracunhaém, além de a cidade sediar a Barragem de Pedra Fina, sistema Palmeirinha também precisa de um olhar especial e políticas públicas ambientais que as contemplem.
O prefeito do Bom Jardim, João Neto (Janjão), tomou conhecimento do projeto do Instituto Mata Viva, e decidiu aderir à iniciativa com o intuito de beneficiar os agricultores rurais, “Tudo que for de bom para nossa população, estamos de portas abertas. Porque isso é muito importante, infelizmente a mão do homem acabou com essas fontes, então precisamos remodelar essa atitude e transformar para o bem coletivo. Esse projeto vem para o nosso município trazer benefícios para todos, pois existem muitos lugares onde as fontes praticamente sumiram. Vamos fazer uma parceria bacana”, ressaltou Janjão.
Outros produtos
A cidade fica localizada em uma região brejeira, onde favorece o cultivo das frutas. A irrigação dessas áreas é fundamental para a agricultura familiar, pecuária e para o agronegócio local, como os tanques de pescas.
Além do Limão, Bom Jardim se destaca com outros tipos de frutas, como a graviola, cajá e coco. Esses cultivos e beneficiamento principalmente das polpas tem movimentado a economia local e atraído a atenção do mercado de outros estados, como São Paulo.
Os agricultores rurais da cidade têm um diferencial no cultivo das frutas plantadas na região, por não utilizarem agrotóxicos, colhendo frutas e verduras naturais, com o apoio da ONG Agroflor. A gestão municipal também tem incentivado o homem do campo, com adesão ao programa Seguro Safra. Aliás, já está sendo finalizado o cadastramento para novos membros da iniciativa.
Alguns produtores possuem fontes de águas que precisam ser recuperadas, enquanto outros não têm esses recursos e sofrem para irrigar a sua produção. Sensibilizada com essa condição, a Prefeitura do Bom Jardim, através da Secretaria de Desenvolvimento Agrícola e Meio Ambiente, despertou para essa necessidade de recuperação das nascentes e junto com o Instituto Mata Viva pretende mudar essa realidade. Capacitar, envolver, juntar forças e lutar para fomentar a produção de alimentos associados à conservação ambiental, e assim promover benefícios econômicos e ecológicos.
II Despesca do Projeto Peixe na Mesa
Com a aproximação do período sazonal da Semana Santa e o início da restauração das nascentes realizado por meio do Instituto Mata Viva, o município de Bom Jardim se antecipa para a II Despesca, que é a etapa final da criação comercial de peixes. Incentivada pela Prefeitura em todas as suas etapas de desenvolvimento até que o peixe esteja pronto para consumo a Despesca, representa o final do manejo dos criadores e o início da distribuição gratuita com os munícipes. “Bom Jardim tem uns tanques que foram construídos para pesca. “Nós iremos fazer a despesca desses lugares, neste momento da semana santa, o peixe que iremos pescar lá, será servido nas mesas dos bonjardinenses. Esse sistema que implantamos em Bom Jardim está sendo referência em outras cidades, e além de tudo mostrar as potencialidades que o município tem”, conclui o prefeito de Bom Jardim, Janjão.
Nesta semana, Bom Jardim vai receber a visita do Ministro da Pesca e Aquicultura, André de Paula, no dia 05 de abril, a partir das 9h. O Ministro estará participando junto a movimentos sociais do II Despesca do Projeto Peixe na Mesa no Assentamento Boa Vista, na comunidade de Lagoa Comprida, próximo ao Distrito de Bizarra. Um dia antes, o Ministro dará início ao projeto “RU na Hora do Pescado Artesanal”, no Restaurante Universitário da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) em um almoço junto com reitores da UFPE, UFRPE e representantes das comunidades pesqueiras. O “RU na Hora do Pescado Artesanal” consiste numa parceria entre a universidade e comunidades de pescadores locais, articulada pelo Ministério da Pesca e Agricultura. Nesta parceria, a universidade dará assistência técnica e extensão universitária sobre procedimentos sanitários, legais e de engenharia de alimentos. Assim, os pescadores artesanais se tornarão fornecedores dos restaurantes universitários. O programa foi lançado pelo presidente Lula em visita a Pernambuco, no último dia 22 de março.