Por: Anamaria Nascimento/Diário de Pernambuco
No primeiro dia do mês decisivo no combate à pandemia de coronavírus, Pernambuco registrou mais duas mortes pela Covid-19. Ao todo, o estado já notificou oito óbitos relacionados à doença. Pernambuco tem, atualmente, 95 casos confirmados. Os modelos matemáticos de projeção da doença analisados pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) apontaram que os dias mais difíceis no enfrentamento ao coronavírus aconteceriam na primeira quinzena deste mês. Abril deve ser um mês com aceleração no número de infectados, com o possível colapso no sistema de saúde previsto pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Na avaliação do secretário estadual de Saúde, André Longo, as medidas restritivas tomadas pelo estado estão ajudando a controlar a curva da doença. “Estamos ganhando tempo. Esses dias são preciosos para a rede de saúde”, afirmou. Já o secretário municipal de Saúde do Recife, Jailson Correia, ressaltou que todos os municípios de Pernambuco serão atingidos pela Covid-19. “O comportamento (da doença) no mundo nos mostra isso. É importante que os municípios coloquem recurso (em ações de enfrentamento ao vírus”, disse.
Para o enfrentamento da doença neste mês, o estado prevê a expansão de leitos hospitalares, com ocupação de 49% atualmente. Nos próximos dias, o antigo Hospital Alfa, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, deve começar a funcionar como unidade exclusiva para pacientes da Covid-19. Ao todo, a unidade contará com 230 leitos, sendo 100 de UTI.
Já a reativação do Unicordis, no Torreão, Zona Norte da cidade, não deve acontecer. Uma avaliação estrutural do prédio idenficou problemas no imóvel. “Estamos substituindo o Unicordis pela Maternidade Brites de Albuquerque. Lá, são 60 leitos, mas queremos ampliar para 100”, explicou Longo.
A Prefeitura de Olinda cedeu espaço na maternidade, na PE-15, para o governo do estado montar os 60 leitos, sendo 40 de UTI e 20 leitos clínicos. O serviço vai contar com 100 leitos, sendo 40 de UTI. A cidade registrou, no boletim epidemiológico divulgado nesta quarta-feira (1º) pela SES, a primeira morte por Covid-19. Um paciente de 81 anos, morador de Olinda, foi socorrido no fim da manhã do dia 25 de março pelo Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) Metropolitano do Recife e levado para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Ele chegou ao local com dificuldade para respirar e quadro de desorientação, além de relato de febre e tosse nos últimos dias.
De acordo com a SES, o idoso sofria de mal de Parkinson. Ele foi atendido, realizou exames e chegou a ser entubado. O paciente teve uma parada cardiorrespiratória na UPA e morreu. Uma equipe do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) foi acionada para fazer a coleta do material para análise, que positivou para Covid-19.
A outra morte notificada no último balanço do estado foi a de um paciente de 64 anos, morador do Recife, que tinha histórico de diabetes e hipertensão. Ele passou por um transplante renal há 10 anos. O homem apresentou tosse, desconforto respiratório e dor de cabeça. Foi internado no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc) no dia 21 de março. No dia seguinte, foi transferido para a UTI, onde foi mantido entubado, realizando diálise e uso de antibiótico. O idoso morreu na nessa terça.
De acordo com a SES, dos 95 casos confirmados no estado, 23 pacientes estão internados, sendo 14 em UTI/UCI e nove em leitos de isolamento. Outros 50 estão em isolamento domiciliar e 14 já se recuperaram da Covid-19. São 64 casos confirmados no Recife; seis em Jaboatão dos Guararapes; cinco em Olinda; três em São Lourenço da Mata; dois em Camaragibe; dois em Petrolina; dois em Fernando de Noronha; um em Palmares; um em Belo Jardim; um em Ipubi; um em Aliança e um em Goiana. O estado registrou ainda dois casos de moradores de outros estados e três de estrangeiros.
Leitos
Em coletiva de imprensa, o secretário estadual de Sáude informou que 10 leitos intermediários foram abertos nesta quarta-feira na Unidade Pernambucana de Atenção Especializada (UPAE) de Petrolina, Sertão do estado. Os espaços serão exclusivos para pacientes com quadros suspeitos ou confirmados da Covid-19. Posteriormente, o número de leitos deve aumentar para 100.
Os leitos de cuidados intermediários são voltados a pacientes com quadros considerados moderados, que não precisam de suporte de respirador. Na UPAE de Petrolina, a previsão é que sejam abertos, até o fim do mês, um total de 100 leitos, sendo 20 de UTI.
Nos últimos dias, 290 leitos já foram abertos no estado, sendo 90 de UTI e 200 de enfermaria. Além disso, a Prefeitura do Recife também já realizou a abertura de 106 leitos, sendo 31 de UTI, no Hospital da Mulher e na Policlínica Amaury Coutinho.
No plano de expansão de leitos para a Covid-19 no estado, além da unidade de Petrolina, outras UPAEs também serão transformadas em unidades voltadas para o tratamento da doença. Uma delas é a unidade localizada em Goiana, que foi construída pelo grupo Fiat Chrysler Automóveis (FCA). A FCA já iniciou o processo para equipar o serviço, que vai abrigar 100 leitos e deve ser aberta até o fim do mês. Além disso, o grupo Fiat ainda vai doar à Secretaria Estadual de Saúde 38 veículos para as ações de vigilância e assistência no enfrentamento ao novo coronavírus.
Um hospital de campanha está sendo montado em Serra Talhada, no Sertão, exclusivamente para o atendimento de casos suspeitos e confirmados de Covid-19. A previsão é que a estrutura esteja em funcionamento em meados de abril na área do estacionamento do Hospital Professor Agamenon Magalhães (Hospam).
O hospital de campanha contará com 100 leitos clínicos, divididos em 10 enfermarias, sendo uma delas pediátrica. A estrutura de apoio também será montada no mesmo espaço. Com a aprovação do projeto de engenharia, a expectativa é que a empresa responsável consiga erguer o hospital em até oito dias.
“Estamos montando 1 mil leitos de enfermaria e de UTI por todo o estado para dar assistência aos pacientes suspeitos e confirmados de Covid-19 em Pernambuco. A estrutura que será montada em Serra Talhada é importante para receber os pacientes da região, dotando a Região o da capacidade de absorver a demanda que venha a surgir na localidade”, afirmou André Longo.
Atualmente, o Hospam já possui uma área exclusiva para atendimento da população com queixas respiratórias. A Unidade Respiratória conta com emergência com sete leitos de observação e 14 de internamento, sendo um com a disponibilidade de ventilação mecânica, além de posto de enfermagem e consultório médico. Ao chegar ao local, os pacientes são classificados de acordo com a gravidade de cada caso e a espera, montada na área externa, foi organizada para manter o distanciamento entre os pacientes. A Unidade Respiratória é totalmente separada das outras áreas do hospital e está em funcionamento desde o último dia 25.
Vacina
Desde o início do ano, Pernambuco registrou 239 casos confirmados para outros vírus de transmissão respiratória. Foram 123 casos de Influenza A; 56 de Influenza B; 45 de Influenza A(H1N1); seis casos de rinovírus; quatro testes positivos para outros tipos de coronavírus e quatro para outros vírus.
De janeiro a 1º de abril, o estado registrou 64 mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag), sendo 10 óbitos decorrentes de casos confirmados de Influenza A, cinco de Influenza B e oito positivos para Covid-19. Sete testes deram negativo para Covid-19 e ainda aguardam resultado para Influenza. Além desses, 34 testes deram negativo tanto para Covid-19 quanto para Influenza e ainda estão em investigação.
Ainda não existe uma vacina para o novo coronavírus, mas há imunização para evitar outras formas de Síndrome Respiratória Aguda Grave. Desde o último dia 23, idosos e profissionais de saúde começaram a receber a vacina contra gripe. Eles são o público-alvo da primeira etapa da Campanha Nacional de Vacinação contra Gripe, que foi antecipada em um mês.
Na primeira fase, Pernambuco tem uma população a vacinar de 1.148.115. O objetivo da antecipação é proteger os pernambucanos contra três vírus da influenza – A(H1N1), A(H3N2) e B -, evitando adoecimentos e, consequentemente, o impacto nos serviços de saúde neste momento da ocorrência de casos do novo coronavírus.