O Globo – Da Coluna de Ancelmo Gois
Por Tiago Rogero
Estudiosos do comportamento político dos brasileiros nas redes sociais e no WhatsApp estão convencidos: a estrutura montada para as eleições de 2018 — com o disparo em massa de informações falsas, por exemplo — continua em plena atividade, não deve parar e tem tudo para piorar.
— Essas estruturas continuam operando porque se descobriu uma ferramenta muito poderosa. Diferentemente do rádio e da TV, que são meios muito caros para fazer campanha e fazer propaganda, a rede social não é tão cara e funcionou na eleição — disse ontem Amaro Grassi, coordenador de pesquisa da FGV DAPP, em painel do evento “Digitalização e democracia” (FGV DAPP, FGV Direito Rio e Embaixada da Alemanha).
Para Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice (consultoria política), a polarização “vai aumentar”: “Temos um candidato que nasce do conflito, vence no conflito e se sente confortável no conflito. Não vejo por que ele sairá do conflito nos próximos meses ou até na reeleição”.
Ele defende que Bolsonaro fez um cálculo “muito racional”: 1/3 do eleitorado está com ele e é para ele que o presidente continuará falando; 1/3 está contra e continuará assim. Já a “conquista” do terço do meio não depende tanto de Bolsonaro, mas do sucesso (ou não) econômico do governo.
O alemão Markus Beckedahl, fundador do netzpolitik.org, acredita que, nas próximas eleições, o cenário de difusão de desinformação será ainda pior. “Aqueles que aplicaram essas táticas de disseminação de desinformação tiveram êxito. Se não alterarmos as regras do jogo, eles vão profissionalizar ainda mais esse comportamento transgressor”.
Para o diretor do Internet Lab, Francisco Brito Cruz, as estruturas começaram a ser montadas há muito tempo, antes mesmo das chamadas Jornadas de Junho, em 2013. “Essa mobilização da sociedade civil que chamamos de ‘nova direita’ começou há muito tempo e ela não tem um objetivo eleitoral unicamente. Ela quer mudar o Brasil. Assim como a estrutura de militância do PT queria mudar o Brasil, e não só ganhar a eleição. Não estamos falando só de gente movida por poder, ou por dinheiro. Estamos falando de gente movida por ideias. Ou seja: não vai desmobilizar”.