Por João Kosta – Na política, há uma linha muito tênue entre parecer ativo e, de fato, ser transformador. Em tempos de redes sociais e comunicação instantânea, muitos agentes públicos têm se deixado seduzir por uma lógica perigosa: a política voltada para o like. Trata-se de uma prática em que o foco deixa de ser a entrega real para a população e passa a se concentrar em aparências, nas curtidas e postagens cuidadosamente ensaiadas para gerar engajamento artificial. O problema? Essa estratégia pode parecer eficiente a curto prazo, mas, a médio e longo prazo, é o caminho mais rápido para a destruição de um legado político.
A política que voltasse para a vitrine se alimenta de gestos ensaiados, fotos bem produzidas e frases de efeito. O político se apresenta como protagonista de uma transformação que, muitas vezes, não existe na prática. A população, porém, não vive de stories. Ela sente na pele a ausência de serviços públicos eficientes, de obras que não saem do papel e de projetos que não passam de anúncios. Quando a performance fala mais alto que o resultado, a confiança se desgasta silenciosamente, até se romper de forma definitiva.
Fazer política não é apenas estar presente em eventos e redes sociais. É, sobretudo, entregar com planejamento, estratégia e compromisso real com o desenvolvimento coletivo. Quando a gestão pública prioriza a entrega, a conexão com a sociedade é orgânica. As pessoas reconhecem o esforço, percebem os avanços e passam a enxergar no líder alguém comprometido com um propósito verdadeiro. O aplauso que vem da entrega é muito mais sólido que o aplauso fabricado na timeline.
O problema maior surge quando o político começa a acreditar que curtidas equivalem a aprovação. Essa distorção de percepção cria uma bolha de autossuficiência: a pessoa passa a governar para a câmera fotográfica, e não para o cidadão. As pautas deixam de ser construídas a partir de necessidades reais e passam a ser guiadas por tendências, modismos e hashtags. O planejamento estratégico, que deveria orientar a ação pública, é substituído por improvisos e ações pontuais desenhadas para gerar repercussão, não transformação.
A política que transforma é a que tem propósito, coerência e constância. É a que olha para além da próxima eleição, buscando consolidar bases sólidas de desenvolvimento e cidadania. Essa política entende que visibilidade é consequência da entrega e não o contrário. Enquanto a política de vitrine brilha rápido e apaga cedo, a política de propósito constrói raízes profundas que resistem ao tempo e aos ventos.
É importante lembrar: redes sociais são ferramentas poderosas, mas não substituem resultados. Não adianta sorrir para a câmera se as ruas continuam esburacadas, se os hospitais continuam lotados ou se a educação segue sem estrutura. A população pode até se impressionar com a imagem, mas é a realidade do dia a dia que define o julgamento final de qualquer gestão. A percepção popular é inteligente e, quando percebe que há mais aparência que ação, a resposta vem e costuma ser dura.
Liderar com propósito exige coragem para dizer “não” a pautas fáceis e assumir compromissos que nem sempre geram aplauso imediato. Exige constância, foco e clareza de missão. Quem constrói legado sabe que não está em uma corrida de likes, mas em uma maratona de realizações, afinal, se faz necessário entender que legado não se faz com filtros, likes, mas sim com entregas que fazem diferença na vida das pessoas.
A síndrome do gestor popstar pode se diluir de forma rápida, quando não se estrutura uma retórica que gere conexão com a transparência de suas ações e verdade no discurso.
Portanto, para o gestor que sonha em governar para transformar, a lição é bem clara: não se governa para vitrine, para o like, governa-se para o cidadão. Não se trabalha para a próxima pastagem, trabalha-se para proporcionar mudanças que visam o melhor para as pessoas, e reafirmando diariamente que as curtidas passam, mas as conquistas de hoje ficam para o amanhã.
Marqueteiro: João Kosta