A um ano da eleição, Pernambuco já vive clima de disputa antecipada

Júlia Arcanjo/LeiaJá – Neste sábado (4), Pernambuco estará a um ano das eleições estaduais de 2026. Apesar da distância do pleito, o estado já vive um clima típico de pré-campanha. Disputas por aliados, enfrentamentos no Legislativo e estratégias de comunicação moldam o cenário que, segundo o cientista político Arthur Leandro, reflete uma “antecipação natural do ciclo eleitoral”, acelerada por pesquisas que colocam o prefeito do Recife, João Campos (PSB), em vantagem.

“Há um esforço visível de rearticulação do governo estadual no território, ao mesmo tempo em que prefeitos e setores empresariais elevam seu valor de barganha. A disputa se organiza em torno de dois polos principais, João Campos e Raquel Lyra, mas a atuação de atores médios pode ser decisiva na construção de alianças”, afirma Leandro.

Pesquisa mostra favoritismo do PSB

Levantamento divulgado pela Real Time Big Data em setembro aponta João Campos com 59% das intenções de voto em um cenário com cinco candidatos. A governadora Raquel Lyra (PSD) aparece em segundo lugar, com 24%, seguida por Gilson Machado (PL), com 5%; Ivan Moraes (PSOL), com 3%; e Eduardo Moura (Novo), também com 3%.

Em uma simulação de confronto direto entre Campos e Raquel, o prefeito amplia a vantagem, 63% a 27%. Os números reforçam a avaliação de Arthur Leandro sobre o favoritismo socialista no curto prazo.

O cenário combina manutenção da vantagem do PSB com espaço para recuperação do governo, caso Raquel consiga alinhar entregas, comunicação eficiente e coalizões locais”, analisa.

Estratégias distintas de comunicação

Na disputa por narrativas, os três principais nomes adotam estratégias diferentes. João Campos aposta em comunicação digital, com identidade pública associada à juventude, eficiência e modernização. “Ele converte atenção em percepção de viabilidade, com forte alcance urbano e junto ao público jovem”, observa Arthur.

Já Raquel Lyra ancora sua imagem na gramática da gestão. Suas entregas e o discurso de responsabilidade fiscal são trunfos, mas também expõem fragilidades. “É sua principal força e, ao mesmo tempo, sua maior fraqueza”, pontua o cientista político.

Eduardo Moura, por sua vez, mira o eleitorado insatisfeito. Com discurso anticorrupção e tom fiscalizador, tenta se consolidar como alternativa de direita. “O desafio é ampliar o alcance estadual e organizar uma base política consistente, hoje inexistente”, destaca Leandro.

Disputas judiciais e alianças no interior

No Legislativo, o prefeito do Recife conta com aliados estratégicos. João Campos tem usado articulações na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), lideradas por figuras como Álvaro Porto (PSDB), para tensionar a governadora, seja em CPIs, disputas por projetos ou manobras regimentais.

Raquel Lyra, por outro lado, tenta segurar sua base no interior e emplacar entregas que reforcem sua imagem de governabilidade. Em recente evento, criticou adversários pela antecipação do debate eleitoral, embora o próprio tabuleiro revele movimentações intensas de bastidores.

Um dos exemplos foi a Missa do Vaqueiro, em Serrita, em setembro, quando João Campos apareceu de mãos dadas com Álvaro Porto, Miguel Coelho (União) e o ministro Silvio Costa Filho (Republicanos) — pré-candidatos ao Senado que já ensaiam articulações ao lado do PSB.

Riscos e variáveis externas

Para além das estratégias locais, Arthur Leandro alerta para fatores externos que podem redesenhar o tabuleiro. “Desemprego, inflação, renda das famílias e segurança pública são variáveis críticas. Elas podem alterar prioridades do eleitorado e deslocar a vantagem relativa de cada narrativa”, diz.

Segundo o cientista político, embora a pré-campanha seja intensa, ela segue dentro do padrão esperado de um sistema competitivo. “Há competição forte, mas compatível com ciclos recentes. O que está em jogo é a capacidade de cada ator alinhar comunicação, entregas e alianças”, conclui.