A cada aparição do presidente Jair Bolsonaro a impressão é que ele foi convidado para um jantar de muitos talheres e não parece à vontade ao manusear a parafernália. É garfo de peixe ou de carne? Para que tantos copos? Percebe-se o seu desconforto em situações oficiais, apesar dos quase 30 anos de vida pública.
No dia da posse, foram raros os momentos em que sorriu, sem que a tensão deixasse seu semblante. Na maior parte do tempo, franze a testa, os maxilares parecem retesados. Receio que Bolsonaro quis ser presidente, realizou seu desejo, mas, ao dar de cara com este Titanic desgovernado que é o Brasil, pensa: o que faço com esta merda? A ficha caiu e ele parece em pânico.
Era pavor o que havia em seus olhos no breve discurso em Davos e na entrevista que se seguiu. Jair acreditava que só precisava se cercar de especialistas para governar e talvez tenha percebido apenas agora que são necessários talentos que ele não tem, como gerir uma equipe, administrar crises, comunicar-se com outros líderes, e também com a população, de forma clara e assertiva.
A imagem de sujeito de hábitos simples, que lava suas roupas, recebe autoridades sem formalidade e almoça sozinho no bandejão do maior fórum econômico mundial, deixa de funcionar, mesmo entre parte de seus eleitores, quando o líder se revela raso, superficial e nervoso.
O presidente alegou cansaço e atacou a imprensa ao cancelar a entrevista coletiva que daria, nesta quarta (23). De onde eu vim, isso se chama “arregar”. Arregou diante de um oponente maior do que ele: o desafio de ser presidente.
Assessores dizem que ele não tem pregado os olhos. Desconfio que sofra de bruxismo. Será que Bolsonaro aguentará o peso da faixa presidencial durante quatro anos? Pelas bandas de cá, general Mourão afaga a imprensa e dá um show de desenvoltura em entrevistas e em suas aparições públicas.