Do JC
Ex-deputada federal, filha do ex-governador Miguel Arraes e mãe do também ex-governador Eduardo Campos, a ministra do Tribunal de Contas da União (TCU) Ana Arraes rompeu o silêncio, ontem (7), e disparou contra seu neto, o deputado federal João Campos (PSB): “Me agrediu”. A declaração da ministra foi dada ao jornalista Jamildo Melo poucas horas após o Blog do Magno divulgar uma longa entrevista em que ela diz estar magoada com o primogênito de Eduardo e que tem o desejo de concorrer ao governo do Estado em 2022.
A rusga entre Ana Arraes e o neto surgiu depois que ele afirmou, durante reunião da Comissão de Educação da Câmara, que o tio, o advogado e presidente da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) Antônio Campos, seria “pior” do que o ministro da Educação, Abraham Weintraub. Na ocasião, após ouvir várias críticas do deputado, o auxiliar do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) lembrou que o tio do parlamentar fazia parte do governo. “Nem relação eu tenho com ele. Ele é um sujeito pior que você”, retrucou João, à época.
Questionada sobre o sentimento que nutre pelo neto após o ocorrido, Ana Arraes deixa claro que ainda não o perdoou. “Eu espero que ele me peça desculpa. Se ele não pedir nem me procurar, o problema é dele. Quem me agrediu foi ele. Eu não o agredi, nunca agredi nenhum neto. Muito pelo contrário, sempre fui avó. Sou uma pessoa calma, tenho tranquilidade para resolver as coisas, mas tem coisas que a gente não pode admitir, porque fui criada para ter respeito com as pessoas. Nem falar português corretamente na ocasião ele falou. Ele se reportou ao ministro como ‘você’, quando todos sabem que esse termo não deve ser usado com um ministro, e sim ‘vossa excelência’”, declarou.
A ministra também fez questão de defender a imagem do seu caçula, Antônio Campos, a quem classificou como “uma pessoa decente, trabalhadora e educada”. “Ele foi desrespeitoso com um tio que é uma pessoa decente, trabalhadora, competente, educada. Como eu eduquei o pai dele (João), eu eduquei o irmão, e os meus dois filhos foram bem educados, os criei com os meus garfos e ensinei as coisas que eles foram desenvolvendo por si próprios. Por isso eu não admito que um neto venha criticar um tio da forma como ele fez. Na minha família isso não existe”, cravou Ana.
Deputada federal por dois mandatos consecutivos (de 2007 a 2011, quando chegou ao TCU), a ministra não negou ter vontade de concorrer novamente a um cargo eletivo, desta vez no Executivo. “Eu vou me aposentar daqui a dois anos e meio e se eu estiver bem como estou agora, pois já sou uma idosa, eu pretendo continuar na luta. Na luta pelo povo pobre de Pernambuco, pelas crianças que precisam de creches, umas das minhas batalhas na Câmara. Eu fiz dez creches com emendas de orçamento na Mata Sul. Sempre pensei nesses meninos que precisam de escola boa, e esse foi um dos programas que foram mais à frente nos governos de Eduardo, também ajudado por mim, através de emendas parlamentares”, disse.
“Problema dele”
Focada, Ana Arraes não parece preocupar-se com possíveis opositores ao seu projeto, como o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), socialista mais cotado para suceder Paulo Câmara (PSB) em 2022. Quando questionada sobre a provável rejeição do gestor municipal à sua candidatura, a ministra foi direta: “aí é problema dele (se não aprovar a ideia), não meu. Eu quero saber quem é mais antigo e quem tem o que mostrar”, provocou.
Além do João, outro membro da Família Arraes também tem o nome ventilado para concorrer à Prefeitura do Recife em 2020, a deputada federal Marília Arraes (PT). Em 2018, às vésperas da eleição para o governo estadual, Marília foi preterida de concorrer ao Palácio do Campo das Princesas após o PT firmar aliança com Paulo e apoiá-lo no pleito. Hoje, a parlamentar ensaia uma pré-candidatura ao Executivo municipal e, para Ana Arraes, ela tem o direito de participar da disputa.
“Ela tem todo o direito de ser candidata. Todos têm direito de ser candidatos, mas eu quero dizer, também, que a origem política é minha. Eu sou filha de Miguel Arraes, mãe de Eduardo Campos e Antônio Campos, criei os dois na política, sempre estiveram com o avô deles, então o nascedouro é meu”, disparou a ministra.
Apesar de verborrágica em alguns aspectos, Ana Arraes esquivou-se em responder algumas perguntas direcionadas a ela durante a entrevista. A ministra evitou, por exemplo, revelar detalhes da sua relação com a viúva de Eduardo, Renata Campos, e dar sua opinião sobre o preparo de João para gerir a cidade do Recife, caso eleito. “Aí é preciso perguntar a ele (João), não vou dar nenhum diagnóstico”, afirmou.
Procurada, a assessoria de imprensa do deputado João Campos afirmou que tentaria entrar em contato com o parlamentar para perguntar se ele gostaria de responder às declarações da avó. Até o fechamento desta edição, nenhum retorno foi dado ao JC.
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